9.5.09

Novos Povoadores andam na casa dos 30 anos e querem há muito mudar de vida

Andreia Sanches, in Jornal Público

Projecto pretende ajudar pessoas da cidade a mudar para o interior despovoado. Os candidatos estão a ser seleccionados


São sobretudo famílias pequenas, duas em cada cinco não têm filhos, a idade média dos adultos ronda os 35 anos e a maior parte anda a pensar em mudar de vida há já algum tempo. Muitas dizem que não têm qualquer experiência de vivência em meio rural, pelo menos nos últimos anos. Mas estão dispostas a deixar a cidade e a mudar-se para o interior. Para começar de novo - abrir um turismo rural, uma editora de livros, produzir vegetais, fabricar candeeiros... há mil e um projectos. Estas são algumas das características dos candidatos à iniciativa Novos Povoadores.

Inscreveram-se no projecto 196 agregados. Há 170 processos em apreciação. Os dados já tratados de 70 por cento das candidaturas mostram o que move quem adere a um desafio como este lançado por três amigos (uma socióloga, um gestor de fundos comunitários numa associação de desenvolvimento local e um dinamizador territorial) em parceria com o INTEC, um instituto de investigação-acção que trabalha na área da qualidade de vida.

O objectivo dos Novos Povoadores é "canalizar todos aqueles que estão despertos para passar de um quotidiano 'hostil', em meio urbano, para uma vida mais tranquila na 'província'". Como?

Frederico Lucas, um dos mentores, explica: quem for seleccionado, será ajudado a mudar da grande cidade para o interior, onde não faltam zonas despovoadas, necessitadas de pessoas qualificadas com energia e capacidade para empreender. As candidaturas serão criteriosamente analisadas, até porque, numa fase inicial do projecto, é importante que as mudanças sejam bem sucedidas, diz Lucas.
"Ajudar" não significa dar apoios financeiros, continua. Significa abrir portas na procura de casa, da escola para os filhos, das condições para desenvolver um empreendimento - o que se pretende é que quem se muda contribua para o desenvolvimento do local de destino, de preferência criando emprego.

Muitas crianças vão nascer

A equipa dos Novos Povoadores pretende fazer protocolos com várias entidades para ajudar a pôr em pé os projectos das pessoas. Por exemplo: há candidatos que dizem que precisarão de formação para levar a cabo a sua ideia. "Faremos protocolos com entidades creditadas para que a formação seja fornecida. Apoios financeiros directos não existem."

Há, entre os candidatos, arquitectos, professores, funcionários públicos, um fotojornalista, um instrutor de taekwondo (uma arte marcial), um fisioterapeuta, um advogado, alguns administrativos... O mais novo dos candidatos tem 27 anos.
Um em cada quatro pretende desenvolver um projecto relacionado com o sector primário. A maioria (67 por cento) quer desenvolver actividade no sector terciário.
Mais de 60 por cento dos candidatos têm o ensino superior e trabalham na cidade onde vivem (a maioria - 58 por cento - vive em Lisboa). Quase dois terços dos agregados têm três pessoas no máximo. Em 39 por cento dos casos, os casais não têm filhos. Muitos terão planos para tê-los longe da cidade, onde os infantários são mais baratos e há mais tempo: "Vamos ter muitas crianças a nascer nas novas casas", acredita Lucas.

Questionados sobre os distritos para os quais gostariam de mudar, Évora é o mais votado (40 por cento).

Até ao final deste mês, Lucas conta ter acordos fechados com quatro municípios, entre os quais Évora e Abrantes, mas as negociações prosseguem. As câmaras serão chamadas a assumir compromissos no sentido dos projectos dos candidatos aprovados poderem ir para a frente.

Em Setembro, as primeiras famílias deverão mudar-se.
Segundo o Instituto Nacional de Estatísticas, 34 por cento da população do país vive na região de Lisboa e Vale do Tejo. Alentejo, Algarve e as Regiões Autónomas em conjunto não atingem o milhão e meio de habitantes. De resto, cerca de 40 por cento dos portugueses vivem em cidades onde se concentra também "70 por cento do endividamento das famílias", lê-se no site do projecto (www.novospovoadores.pt). A aposta é contrariar estes números e promover o "êxodo urbano".

O Novos Povoadores é um projecto que procura conjugar interesses de empresários, trabalhadores dependentes e independentes que vivem nas grandes cidades com os de municípios do interior. O objectivo é reduzir as assime-trias regionais e seduzir micro-empresários e grandes empre-sas que podem estar interes-sadas em transferir alguns serviços para locais de baixa densidade populacional. Na prática, o Novos Povoadores é um serviço às câmaras, que irão pagar à equipa promotora um "preço" por cada família que se mudar da cidade e perma-neça pelo menos um ano no município. Cada família será acompanhada um ano.