3.5.09

Religiões convivem na Quinta da Fonte

Luís Garcia, in Jornal de Notícias

Cerca de cem pessoas de várias confissões participaram no primeiro desfile inter-religioso da Apelação, em Loures. A caminhada, que começou no bairro Quinta da Fonte, procurou unir a freguesia .

Na frente do cortejo, ao som da fanfarra e dos tambores, seguiram os kimbanguistas, membros de uma igreja cristã oriunda de África, cuja sede nacional fica na própria Quinta da Fonte. Vestidos a rigor, de branco e verde, os seguidores do kimbanguismo formavam a maior comitiva do desfile.

Na iniciativa participaram também a comunidade católica da Apelação, a Igreja Ministério do Monte Santo e a Igreja Evangélica Filadélfia, além de elementos das comunidades católica e muçulmana da Urbanização Terraços da Ponte, em Sacavém. Em destaque nos discursos dos líderes religiosos presentes esteve a importância do diálogo e de um esforço conjunto para conseguir a paz, num território castigado por vários episódios de violência, cuja face mais visível foram tiroteios de Julho de 2008.

"Temos de dar as nossas mãos, olhar uns para os outros e dar um passo de gigante para o futuro", disse António Pinto Nunes, pregador da Igreja Mundo Santo, ele próprio antigo morador da Apelação, de etnia cigana.

Lembrando que a Apelação "experimentou na carne a realidade dramática" da insegurança, o padre João Bento, da comunidade católica da freguesia, incitou a um esforço de entendimento mútuo, em vez da insistência "na repressão e na violência".

José Amara Queta, líder da comunidade islâmica dos Terraços da Ponte (antiga Quinta da Mocho) deu o exemplo da união entre muçulmanos e cristãos naquele bairro de Sacavém. "Agora há sempre muçulmanos nas cerimónias católicas e católicos nas cerimónias muçulmanas. Esta comunicação bilateral ajudou-nos muito", explicou Amara Queta, defendendo que "na religião não há raças nem tribos".

O vereador João Pedro Domingues admitiu que a adesão da população não foi tão grande como era esperado, mas classificou a iniciativa, realizada no âmbito do Contrato Local de Segurança de Loures, como "um dos mais importantes momentos de ligação entre as várias comunidades religiosas". O convívio estendeu-se a um almoço comunitário, com pratos como muamba de África, borrego típico de casamentos ciganos, bobó de camarão à moda do Brasil e feijoada à portuguesa.