Alexandra Marques, in Jornal de Notícias
Na primeira iniciativa de candidatura à Presidência da República, o médico que chefia a AMI defendeu ontem que, dada a situação preocupante do país, o próximo chefe de Estado deve ser alguém que não precise da política, que seja frontal e conheça bem o Mundo.
A primeira declaração que saiu ontem da boca de Fernando Nobre foi para responder directamente ao seu (quase) adversário Manuel Alegre, que classificou a sua candidatura como um factor de divisão de votos à Esquerda que favorece Cavaco Silva.
"Estou aqui para unir e não para divisões artificiais. Somos todos necessários, estamos todos no mesmo barco. Somos todos Portugueses", disse, logo a abrir o seu primeiro jantar-comício como candidato presidencial.
Do Mercado da Ribeira, dirigiu um segundo recado aos putativos candidatos ao cargo, por causa dos vínculos partidários e papéis relevantes que tiveram na vida política do país: Cavaco como primeiro-ministro e líder do PSD; Alegre como governante nos Executivos de Mário Soares , dirigente socialista e, por fim, deputado e vice-presidente do Parlamento.
"Dada a situação verdadeiramente preocupante" do país, Portugal precisa de um Presidente que seja independente, suprapartidário, que nada precise da política". Alguém "que conheça bem o país e o mundo e tenha um discurso frontal e de verdade", disse.
O exemplo deve vir de cima
"Sou apartidário, mas não apolítico", referiu, lembrando a actividade profissional exercida na secção portuguesa da Assistência Médica Internacional (AMI): "Faço política humanitária, social, global há 30 anos".
Se for eleito, a prioridade será "lutar contra a desesperança, a descrença e a desmoralização que deprimem Portugal" e exigir aos que estão ao comando da Nação a "insubstituível exemplaridade". Porque "as elites nunca se esqueçam que deverão sempre sobrepor os seus deveres aos seus direitos", referiu.
Se os políticos devem "prestar contas aos eleitores, assumir as suas responsabilidades e as consequências dos seus actos" e pugnarem por maior justiça social, o Estado e o sector provado "premiar o esforço e o mérito e combater o facilitismo, a falta de rigor e o chico-espertismo", esta última uma expressão que o ex-chefe de Estado Jorge Sampaio costumava usar.
"Não pactuar com a situação trágica da Justiça em Portugal" e colocar igualmente a Economia, a Saúde e a Educação "ao serviço das pessoas e do Estado e não o contrário", foram outros desideratos enunciados pelo candidato, que quer ajudar a "curar" o país.