11.5.10

Opinião: Um cidadão pobre não é um cidadão livre

J. Silva Peneda, Presidente do Conselho Económico e Social, in Jornal de Notícias

Um indicador relevante para a medição da pobreza é verificar a parte da população que, apesar de estar empregada, vive com um rendimento abaixo de 60% da mediana nacional, ou seja, abaixo do limiar da pobreza. Em Portugal, esse valor ronda os 12%. A este respeito, na União Europeia, pior que nós só Roménia, Grécia e Polónia.

Ainda no nosso país, a média dos salários mais altos é superior em mais de seis vezes à média dos salários mais baixos. Na Europa, apenas Letónia, Roménia e Bulgária registam uma desigualdade superior à de Portugal. Portugal viu assim e nos últimos anos a sua economia crescer menos de metade da média União Europeia, enquanto a pobreza e as desigualdades sociais continuam a ser das mais elevadas.

O que está em causa não é apenas o desemprego e o fenómeno de pobreza que lhe está associado. O que está em causa é a perda de confiança em si próprio e nos outros. Definitivamente, o que está em causa é a perda desse valor essencial que é a liberdade, porque um cidadão que não pode aceder a instrumentos basilares que lhe permita um relacionamento normal com os seus concidadãos não é um ser livre.

Esta é a pior das crises porque toca na verdadeira essência da política, dado que a falta de liberdade limita severamente que o cidadão comum afectado pela pobreza e a sua família possam sonhar com a felicidade. É assim que a função mais nobre que deveria estar associada à actividade política e que tem a ver com o primado na pessoa humana se desvanece e descaracteriza.