in O Mirante
“Chegámos a uma situação em que as pessoas têm que escolher: ou vão à farmácia ou compram comida” A frase soltou-se da assistência a meio do debate que decorreu na noite de sexta-feira, 14 de Maio, na Junta de Freguesia de Vila Franca de Xira.
O auditório encheu-se de populares que ouviram os quatro euro deputados - Ana Gomes (PS), João Ferreira (PCP), Rui Tavares (Bloco de Esquerda) e Carlos Coelho (PSD) – e quiseram participar activamente no colóquio sobre a “Europa dos cidadãos”.
Arnaldo Silva, trabalhador desde os 12 anos, pagador de impostos há 43, foi o primeiro a lançar questões. “Que Europa é esta que abriu as portas à China acabando com postos de trabalho? Que Europa é esta que retira os direitos que os trabalhadores conquistaram?”, questionou. Arnaldo Silva não entende porque umas calças de ganga têm que custar o mesmo em Portugal que em Espanha quando os salários mínimos são diferentes. “A pobreza está a aumentar. Caminhamos para o abismo”, vaticina Arnaldo Silva que fala na “escravatura do cidadão”.
O euro deputado do Bloco de Esquerda, Rui Tavares, defende que estando Portugal a meio da travessia do rio deve continuar. Recuar nesta altura pode ser perigoso. “Não há muitos exemplos de divórcios de veludo. Voltar para trás é voltar ao passado de conflito, de má vizinhança, de guerra”.
A mesma opinião é partilhada por Ana Gomes, europeísta convicta, defensora da Europa federal, que lembrou que a União Europeia (antiga CEE) foi criada para evitar a guerra unindo os países do continente.
Os defensores da Europa admitem que é preciso mudança e “alguma federização” para defender o projecto europeu, o que na perspectiva de alguns será a tábua de salvação. “O projecto europeu pode salvar-nos. Sozinhos estamos piores. É sempre tarde”, alerta Rui Tavares.
João Ferreira, do PCP, manifestamente contra o projecto da União Europeia, falou ao auditório sobre o recuo na produção agrícola, nas pescas, na indústria e nos direitos dos trabalhadores, mas logo foi apelidado de “velho do Restelo” por alguns populares presentes.
“Foi a falta de uma governação que levou a Europa a esta crise tremenda”, lembra Ana Gomes que considera que não se equacionou a necessidade de criação de emprego e tudo se voltou para a questão financeira. Logo em 2007, com a crise do sub prime nos Estados Unidos, todas as campainhas deveriam ter soado, continua.
Mais à direita Carlos Coelho, euro deputado do PSD, também deixou claro que faz mais sentido estar dentro do que estar fora. Compreende o descrédito dos políticos junto dos cidadãos, mas lamenta a postura de quem critica sem apresentar alternativas. Por vezes a culpa da má imagem das instituições europeias é dos próprios governos nacionais: “Bruxelizam-se os problemas e nacionalizam-se os sucessos”. Para fomentar a participação do cidadão na Europa é necessário reforçar o carácter federal da Europa, diz Carlos Coelho.
Um avanço no processo federal pode ser o caminho. “No mundo globalizado não é Portugal ou não é a Alemanha que vai sozinha fazer a diferença”, reforça Ana Gomes. A socialista defende a noção de solidariedade para a Europa de forma a garantir equilíbrios. “Nós acordámos tarde na União Europeia para fazer valer os nossos direitos. A solução não é menos Europa. É solução é mais Europa. A solução é ir para a frente”.