in Jornal de Notícias
É o fraco crescimento da economia, mais do que os problemas orçamentais, que penalizam Portugal nos mercados, sustentam analistas internacionais.
Como a revista britânica 'The Economist' sublinhava numa análise recente, "Portugal não é a Grécia" mas tem problemas estruturais que podem vir a penalizar a sua economia. O principal ponto apontado pela revista é o mesmo da justificação da Standard & Poor's para baixar o 'rating' da dívida de longo prazo em dois níveis: o fraco crescimento que a economia deverá ter nos próximos anos.
"A revisão do 'rating' não foi tomada devido a qualquer ato particular de política ou de qualquer desenvolvimento que tenha ocorrido nos últimos dias. O que mudou foi a nossa avaliação do cenário de crescimento económico para Portugal", explicou o responsável da Standard & Poor's Kai Stukenbrock à Agência Lusa.
O fraco crescimento real e potencial português resulta de uma perda drástica de competitividade e de alto endividamento público e privado. O país perdeu competitividade quando entrou no euro e perdeu quota no mercado das exportações para as economias emergentes devido ao aumento dos custos do trabalho e dos salários, que suplantou o crescimento da produtividade.
A Standard & Poor's cortou há uma semana o 'rating' da dívida portuguesa porque prevê que a economia estagne em 2010 e que atinja os 1 por cento de crescimento apenas em 2012, na melhor das hipóteses. A agência não é a única a pensar que o crescimento da economia vai ficar abaixo dos 0,7 por cento que o Governo prevê. O Banco de Portugal projeta um crescimento de 0,4 por cento do PIB este ano e o Fundo Monetário Internacional de apenas 0,3 por cento.
Caso o crescimento fique abaixo do esperado, e as contas continuem no mínimo iguais ao previsto pelo Governo, o rácio da dívida pública e do défice face ao PIB altera-se e, no final, pode mesmo prejudicar o objetivo de reduzir o défice para menos de 3 por cento em 2013, como acordado com a União Europeia no âmbito do Pacto de Estabilidade e Crescimento.
A Standard & Poor's diz mesmo que, nas contas que faz ao cenário macroeconómico português, o défice orçamental chegará a 2013 nos 4,1 por cento, mais 1,3 pontos percentuais que os 2,8 previstos pelo Governo. "O maior problema de Portugal não é fundamentalmente orçamental. Diz respeito ao crescimento - ou à falta dele", escreveu 'The Economist' na sua análise.
A isto acresceu a falta de poupança. O alto endividamento público e privado está à mostra. A dívida pública caminha para os 85 por cento do PIB, o endividamento das famílias já supera os 100 por cento e o das empresas os 140 por cento.