in Jornal de Notícias
O governador do Banco de Portugal considerou hoje, sexta-feira, como "inevitáveis" as medidas de austeridade anunciadas pelo Governo, acrescentando que o aumento de impostos indirectos era "fácil de prever", mas que o importante é "o compromisso de reduzir o défice".
"Estas medidas eram inevitáveis, como disse, visto que numa situação em que é preciso reduzir o défice orçamental de uma forma rápida, precisamente os impostos indirectos são os mais rápidos a produzir receita", afirmou o governador do Banco de Portugal, numa conferência em Lisboa.
"Neste momento temos, de facto, de corrigir os nossos défices", considerou Vítor Constâncio, sublinhando ainda que "importante é o compromisso que o Governo assumiu de reduzir o défice de 9,4% em 2009 para 4,6% em 2011".
Durante a conferência promovida pelo Banco de Portugal, Vítor Constâncio lembrou as suas afirmações em Fevereiro, em que previu um aumento dos impostos indirectos (na altura criticado pelos membros do Governo) e considerou que este "caminho é o único que é aconselhado, visto que não o fazer no actual contexto dos mercados financeiros implicaria coisas piores".
"Efeito de contágio"
À saída, o responsável explicou que a recente pressão dos mercados sobre vários países "teve um efeito de contágio" nesses mercados financeiros, o que obrigou Portugal a um esforço adicional para reforçar a sua credibilidade.
"Portugal tem de demonstrar que faz agora um esforço de reequilibrar as suas contas por forma a continuar a ter acesso aos mercados financeiros e a continuar a financiar-se regularmente, o que é essencial para, uma vez demonstrada essa nossa credibilidade, poder continuar assim o nosso processo de crescimento económico por forma a convergirmos", disse.
"A situação mudou nos mercados financeiros e a pressão é de tal ordem que realmente ambos [Portugal e Espanha] tiveram de fazer novos reforços. Agora, o importante é realmente o objectivo de 4,6 de défice em 2011, porque isso significa um ajustamento de quase 5% em dois anos, o que é muito significativo", acrescentou.
O ainda governador do Banco de Portugal considerou também que este novo plano do Governo "foi bem recebido nos mercados financeiros" e a nível internacional e que restabelecer a credibilidade da economia é fundamental "para evitar males maiores".
Apesar dos efeitos restritivos de curto prazo na economia, e no seu crescimento, das medidas anunciadas, Vítor Constâncio entende que esse efeito será apenas "temporário" e que "a economia sairá disso".
Questionado sobre o período pós-medidas (uma vez que estes aumentos de impostos durarão até ao final de 2011), Vítor Constâncio disse apenas: "na altura veremos".