Dados do Instituto Nacional de Estatística colocam taxa de desemprego nos 7,2% no primeiro trimestre de 2023, valor que compara com 5,9% no mesmo período de 2022. Mas houve também um aumento da população empregada no país para níveis próximos dos máximos. Confuso?
Nos primeiros três meses de 2023 a taxa de desemprego aumentou em Portugal para 7,2%, mas o emprego também, levando a população empregada a aproximar-se novamente dos 5 milhões. Confuso? Podem os indicadores do emprego e do desemprego de um país aumentar em simultâneo? Podem. E no caso de Portugal são várias as explicações para este fenómeno, desde a redução do número de inativos, com o regresso de pessoas ao mercado de trabalho, até à entrada de trabalhadores estrangeiros no país.
Os dados divulgados esta semana pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) mostram que na comparação com o primeiro trimestre do ano passado, o número de pessoas empregadas aumentou em 23,8 mil (0,5%). E os sectores do Turismo e da Construção foram aqueles que criaram mais postos de trabalho.
Se excluirmos o período pandémico, a taxa de desemprego de 7,2% registada no primeiro trimestre deste ano é a mais elevada em Portugal desde o mesmo período de 2018 e compara com um valor de 6,5% nos últimos três meses de 2022 e de 5,9% no período homólogo, o primeiro trimestre do ano passado. Um sinal de que, apesar de resiliente, o mercado de trabalho não ficou imune a um contexto mais adverso marcado por elevada inflação, escalada das taxas de juro e incerteza económica, financeira e geopolítica.
O INE estima que o número de desempregados no país tenha atingido nos primeiros três meses deste ano os 380,3 mil pessoas. Trata-se de um aumento de 11% em cadeia (ou seja face ao trimestre anterior) e de 23,3% em termos homólogos.
A desagregação regional dos dados do desemprego no primeiro trimestre do ano mostra que a Área Metropolitana de Lisboa concentra a taxa de desemprego mais expressiva do país, 8%. Em segundo lugar surge a região Norte com 7,6% e logo a seguir o Alentejo e o Algarve, ambos com uma taxa de desemprego de 7,2%.
EMPREGO PERTO DE MÁXIMOS
Mas, nem tudo são más notícias. É que, apesar da subida do desemprego, o emprego também aumentou. O número de pessoas empregadas no país, no primeiro trimestre do ano, ultrapassou 4,92 milhões ficando muito perto do máximo da atual série de dados do INE que começa em 2011, registado no verão do ano passado.
Um dos fatores que pode explicar esta subida simultânea do emprego e do desemprego é a redução do número de inativos no país, que baixou 1% em cadeia (menos 34,6 mil pessoas) e 1,6% em termos homólogos (menos 55,8 mil pessoas) para 3,53 milhões de pessoas.
Verificou-se no primeiro trimestre um regresso ao mercado de trabalho de pessoas que, até aí, apesar de não terem emprego eram consideradas inativas pelo INE, seja porque não procuravam ativamente um posto de trabalho, seja porque não estavam disponíveis no imediato para aceitar uma vaga.
SUBUTILIZAÇÃO DO TRABALHO AUMENTA
Importa ainda referir que a subutilização do trabalho - um indicador a que os especialistas dão muita atenção, porque traduz o desemprego em sentido mais lato - dá no primeiro trimestre do ano um sinal de alerta. Para além das pessoas contabilizadas como desempregadas pelo INE, este indicador abrange também os inativos disponíveis para trabalhar mas que não procuraram ativamente emprego (os chamados ‘desencorajados’), os inativos que procuraram ativamente emprego mas que não estavam no imediato disponíveis para ocupar uma vaga, e os trabalhadores a tempo parcial que gostariam de trabalhar mais horas (o chamado subemprego).
Ora, tudo somado, a subutilização do trabalho abrangeu 680,7 mil pessoas no primeiro trimestre deste ano, indica o INE. É um aumento de 7,5% (mais 47,6 mil pessoas) em relação ao trimestre anterior e de 10,1% (mais 62,5 mil pessoas) na comparação homóloga. De modo idêntico, a taxa de subutilização do trabalho, estimada em 12,5% pelo INE, aumentou em relação aos dois trimestres de comparação: o anterior (mais 0,8 pontos percentuais) e o homólogo (mais um ponto percentual).
TURISMO E CONSTRUÇÃO ALAVANCAM EMPREGO
Outro fator a ter em conta na análise desta dinâmica de emprego/desemprego é a entrada de trabalhadores estrangeiros em Portugal. Sinal disso é o facto de os dados divulgados pelo INE sinalizarem os sectores do Alojamento e Restauração (coincide grosso modo com o turismo), da Construção e da Agricultura como os que, em termos homólogos, mais contribuíram para a maior criação de emprego no primeiro trimestre.
Recorde-se que têm sido estes sectores que têm sentido dificuldade em captar mão de obra no país e têm apostado no recrutamento de imigrantes. Exemplo disso são os protocolos firmados ora por associações empresariais destes sectores ou pelo próprio Governo, para atrair e qualificar trabalhadores dos países africanos de língua oficial portuguesa (e não só) para trabalhar no país.
Em sentido contrário, os cálculos realizados pelo Expresso com base nos dados do INE mostram que a maior redução de postos de trabalho no primeiro trimestre de 2023, face ao período homólogo, ocorreu nos sectores da Educação (menos 59 mil trabalhadores), da Administração Pública e Defesa (menos 26,9 mil), Comércio por grosso e a retalho e reparação de veículos automóveis (menos 17,9 mil pessoas).
413,8 MIL TRABALHAM A TEMPO PARCIAL
Mais, os dados conhecidos esta semana mostram também que nos primeiros três meses de 2023 o emprego a tempo parcial aumentou no país. O número de pessoas a trabalhar neste regime aumentou 6,5% em termos homólogos e 7,1% relativamente ao trimestre anterior, atingindo 413,8 mil.
É preciso recuar até ao primeiro trimestre de 2019 para encontrar um número mais alto. O trabalho a tempo parcial representou assim nos primeiros três meses do ano 8,4% do total do emprego, o que compara com 7,9% tanto no trimestre anterior como nos mesmos meses do ano passado.
Outro indicador a considerar é o da precariedade - medida pelo peso número de contratos a termo e outro tipo de situações contratuais como os contratos de prestação de serviços no total do emprego - que também registou uma subida de um ponto percentual no primeiro trimestre deste ano face ao mesmo período de 2022.
No trimestre compreendido entre janeiro e março deste ano, 17,1% dos trabalhadores por conta de outrem em Portugal estavam vinculados por contratos a termo ou outros, como a prestação de serviços. Uma percentagem que no primeiro trimestre de 2022 não ia além de 16,1%.
Em sentido inverso, a percentagem de trabalhadores com contratos sem termo caiu um ponto percentual nos primeiros três meses do ano face a igual período do ano passado, para 82,9%.
Nos primeiros três meses de 2023 a taxa de desemprego aumentou em Portugal para 7,2%, mas o emprego também, levando a população empregada a aproximar-se novamente dos 5 milhões. Confuso? Podem os indicadores do emprego e do desemprego de um país aumentar em simultâneo? Podem. E no caso de Portugal são várias as explicações para este fenómeno, desde a redução do número de inativos, com o regresso de pessoas ao mercado de trabalho, até à entrada de trabalhadores estrangeiros no país.
Os dados divulgados esta semana pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) mostram que na comparação com o primeiro trimestre do ano passado, o número de pessoas empregadas aumentou em 23,8 mil (0,5%). E os sectores do Turismo e da Construção foram aqueles que criaram mais postos de trabalho.
Se excluirmos o período pandémico, a taxa de desemprego de 7,2% registada no primeiro trimestre deste ano é a mais elevada em Portugal desde o mesmo período de 2018 e compara com um valor de 6,5% nos últimos três meses de 2022 e de 5,9% no período homólogo, o primeiro trimestre do ano passado. Um sinal de que, apesar de resiliente, o mercado de trabalho não ficou imune a um contexto mais adverso marcado por elevada inflação, escalada das taxas de juro e incerteza económica, financeira e geopolítica.
O INE estima que o número de desempregados no país tenha atingido nos primeiros três meses deste ano os 380,3 mil pessoas. Trata-se de um aumento de 11% em cadeia (ou seja face ao trimestre anterior) e de 23,3% em termos homólogos.
A desagregação regional dos dados do desemprego no primeiro trimestre do ano mostra que a Área Metropolitana de Lisboa concentra a taxa de desemprego mais expressiva do país, 8%. Em segundo lugar surge a região Norte com 7,6% e logo a seguir o Alentejo e o Algarve, ambos com uma taxa de desemprego de 7,2%.
EMPREGO PERTO DE MÁXIMOS
Mas, nem tudo são más notícias. É que, apesar da subida do desemprego, o emprego também aumentou. O número de pessoas empregadas no país, no primeiro trimestre do ano, ultrapassou 4,92 milhões ficando muito perto do máximo da atual série de dados do INE que começa em 2011, registado no verão do ano passado.
Um dos fatores que pode explicar esta subida simultânea do emprego e do desemprego é a redução do número de inativos no país, que baixou 1% em cadeia (menos 34,6 mil pessoas) e 1,6% em termos homólogos (menos 55,8 mil pessoas) para 3,53 milhões de pessoas.
Verificou-se no primeiro trimestre um regresso ao mercado de trabalho de pessoas que, até aí, apesar de não terem emprego eram consideradas inativas pelo INE, seja porque não procuravam ativamente um posto de trabalho, seja porque não estavam disponíveis no imediato para aceitar uma vaga.
SUBUTILIZAÇÃO DO TRABALHO AUMENTA
Importa ainda referir que a subutilização do trabalho - um indicador a que os especialistas dão muita atenção, porque traduz o desemprego em sentido mais lato - dá no primeiro trimestre do ano um sinal de alerta. Para além das pessoas contabilizadas como desempregadas pelo INE, este indicador abrange também os inativos disponíveis para trabalhar mas que não procuraram ativamente emprego (os chamados ‘desencorajados’), os inativos que procuraram ativamente emprego mas que não estavam no imediato disponíveis para ocupar uma vaga, e os trabalhadores a tempo parcial que gostariam de trabalhar mais horas (o chamado subemprego).
Ora, tudo somado, a subutilização do trabalho abrangeu 680,7 mil pessoas no primeiro trimestre deste ano, indica o INE. É um aumento de 7,5% (mais 47,6 mil pessoas) em relação ao trimestre anterior e de 10,1% (mais 62,5 mil pessoas) na comparação homóloga. De modo idêntico, a taxa de subutilização do trabalho, estimada em 12,5% pelo INE, aumentou em relação aos dois trimestres de comparação: o anterior (mais 0,8 pontos percentuais) e o homólogo (mais um ponto percentual).
TURISMO E CONSTRUÇÃO ALAVANCAM EMPREGO
Outro fator a ter em conta na análise desta dinâmica de emprego/desemprego é a entrada de trabalhadores estrangeiros em Portugal. Sinal disso é o facto de os dados divulgados pelo INE sinalizarem os sectores do Alojamento e Restauração (coincide grosso modo com o turismo), da Construção e da Agricultura como os que, em termos homólogos, mais contribuíram para a maior criação de emprego no primeiro trimestre.
Recorde-se que têm sido estes sectores que têm sentido dificuldade em captar mão de obra no país e têm apostado no recrutamento de imigrantes. Exemplo disso são os protocolos firmados ora por associações empresariais destes sectores ou pelo próprio Governo, para atrair e qualificar trabalhadores dos países africanos de língua oficial portuguesa (e não só) para trabalhar no país.
Em sentido contrário, os cálculos realizados pelo Expresso com base nos dados do INE mostram que a maior redução de postos de trabalho no primeiro trimestre de 2023, face ao período homólogo, ocorreu nos sectores da Educação (menos 59 mil trabalhadores), da Administração Pública e Defesa (menos 26,9 mil), Comércio por grosso e a retalho e reparação de veículos automóveis (menos 17,9 mil pessoas).
413,8 MIL TRABALHAM A TEMPO PARCIAL
Mais, os dados conhecidos esta semana mostram também que nos primeiros três meses de 2023 o emprego a tempo parcial aumentou no país. O número de pessoas a trabalhar neste regime aumentou 6,5% em termos homólogos e 7,1% relativamente ao trimestre anterior, atingindo 413,8 mil.
É preciso recuar até ao primeiro trimestre de 2019 para encontrar um número mais alto. O trabalho a tempo parcial representou assim nos primeiros três meses do ano 8,4% do total do emprego, o que compara com 7,9% tanto no trimestre anterior como nos mesmos meses do ano passado.
Outro indicador a considerar é o da precariedade - medida pelo peso número de contratos a termo e outro tipo de situações contratuais como os contratos de prestação de serviços no total do emprego - que também registou uma subida de um ponto percentual no primeiro trimestre deste ano face ao mesmo período de 2022.
No trimestre compreendido entre janeiro e março deste ano, 17,1% dos trabalhadores por conta de outrem em Portugal estavam vinculados por contratos a termo ou outros, como a prestação de serviços. Uma percentagem que no primeiro trimestre de 2022 não ia além de 16,1%.
Em sentido inverso, a percentagem de trabalhadores com contratos sem termo caiu um ponto percentual nos primeiros três meses do ano face a igual período do ano passado, para 82,9%.