Salário médio subiu 7,4% em termos homólogos no primeiro trimestre do ano, ainda que em termos reais, considerando a inflação, tenha continuado a cair. Mas por trás deste número há grandes diferenças na economia portuguesa. Maiores subidas ocorreram no privado, em sectores como a eletricidade e gás e o turismo e nas pequenas empresas
Onde é que os salários mais crescem em Portugal? É a esta pergunta que a análise aos dados publicados esta quinta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) permite responder.
Segundo a autoridade estatística nacional, o salário médio no país aumentou 7,4% no primeiro trimestre em termos homólogos, ou seja, em relação ao mesmo período do ano passado. Só que este incremento, apesar de representar uma aceleração dos aumentos salariais, ficou aquém da inflação, levando a uma perda de poder de compra no salário médio. Em termos reais, verificou-se uma queda de 0,6%.
Por trás destes grandes números estão, contudo, realidades muito diferentes para os trabalhadores em Portugal. A remuneração média subiu mais no sector privado do que no público e nas pequenas empresas mais do que nas grandes. Também há grandes diferenças por atividade económica com eletricidade, gás e turismo a registar os maiores aumentos.
Nos primeiros três meses de 2023, a remuneração bruta mensal média por trabalhador atingiu 1.355 euros, subindo 7,4% face ao primeiro trimestre de 2022. Os números apurados pelo INE abrangem as remunerações declaradas à Segurança Social (SS) e também os dados da Caixa Geral de Aposentações (CGA) e tem em conta um universo de 4,5 milhões de postos de trabalho no país, repartidos entre sectores privado e público.
O valor real do salário médio no país foi, contudo, mais baixo. Considerando o impacto da inflação, o INE chega a um valor de 1.151 euros brutos mensais no primeiro trimestre de 2023. Ou seja, menos 204 euros.
A análise da evolução das remunerações em termos reais ganhou atualidade desde o início da escalada da inflação, no final de 2021. Apesar de agora a inflação em Portugal já se encontrar numa trajetória descendente, o seu valor ainda foi expressivo nos primeiros três meses do ano e custou um preço alto aos salários.
O aumento nominal de 7,4% no salário médio não foi suficiente para compensar a subida dos preços e, em termos reais, a remuneração média voltou a cair perdendo 0,6%.
Os dados do INE mostram que, em termos reais e considerando a comparação homóloga, o salário médio em Portugal tem estado sempre a cair desde o quatro trimestre de 2021. Ou seja, há mais de um ano que o poder de compra dos trabalhadores em Portugal diminui.
TRABALHADORES DO PRIVADO GANHAM PODER DE COMPRA E DO PÚBLICO PERDEM
Há, no entanto, diferenças na evolução do salário médio entre o sector público e o privado, com desvantagem para os trabalhadores da Administração Pública (AP). É que no sector público, o aumento da remuneração média foi muito mais contido, ficando pelos 5,4% em termos nominais. Como resultado, verificou-se mesmo uma quebra em termos reais, de 2,5%.
Já no sector privado, o aumento nominal do salário médio atingiu 8,3% no primeiro trimestre. Um valor que ficou acima da inflação, levando a um ganho real de 0,3%.
O aumento de 7,4% em termos nominais no primeiro trimestre fica aquém dos 8% de crescimento salarial em janeiro e fevereiro, referidos pelo Governo na apresentação do Programa de Estabilidade, tendo em conta as declarações feitas à Segurança Social.
A explicação para esta diferença pode estar no universo de trabalhadores considerados, que, como referido acima, abrangem não apenas o sector privado (segurança social), mas também o sector público (CGA). Ora, foi precisamente no sector público que os salários menos aumentaram. Já no sector privado, a subida do salário médio ficou até acima dos 8% destacados pelo Governo.
Esta diferença entre a evolução salarial no público e no privado pode, contudo, vir a ser ligeiramente atenuada. Recorde-se que o Governo avançou com uma atualização remuneratória adicional para a função pública já este ano, de 1%, paga em abril (ou seja já fora do período em análise pelo INE), mas com efeitos retroativos a janeiro deste ano.
ELETRICIDADE, GÁS E TURISMO COM OS MAIORES SUBIDAS
As diferenças na evolução do salário médio sentem-se também por atividade económica e são expressivas. No topo das que registam maiores ganhos na remuneração média encontram-se as “atividades dos organismos internacionais e outras instituições extraterritoriais” (por exemplo trabalhadores de consulados e de instituições internacionais como as Nações Unidas), com um aumento nominal de 13,2%. Contudo, este sector tem um peso residual no emprego em Portugal.
Segue-se na lista a “eletricidade, gás, vapor, água quente e fria e ar frio”, com uma valorização salarial média de 12,2% em termos nominais. O terceiro lugar é ocupado por um peso pesado do emprego em Portugal: o “alojamento, restauração e similares” (que corresponde, grosso modo, ao sector do Turismo", com um incremento de 10%.
Fruto deste aumento nominal expressivo em todos estes três sectores, o salário médio também subiu em termos reais. Aliás, houve vários outros onde a variação nominal foi suficiente para compensar a inflação, levando a variações reais positivas.
O comportamento dos salários também foi diferenciado consoante a dimensão das empresas. Foi nas mais pequenas que os aumentos foram mais marcados, permitindo uma valorização real do salário médio.
É nas micro e pequenas empresas, com 1 a 4 trabalhadores e de 5 a 9, que a valorização nominal do salário médio é mais notória, permitindo ganhos reais. Em contraponto, nas empresas de maior dimensão (mais de 250 trabalhadores) a subida salarial foi mais modesta, conduzindo a uma degradação das remunerações médias em termos reais.
INDÚSTRIA DE BAIXA TECNOLOGIA LIDERA AUMENTOS
Numa análise à indústria transformadora, os dados do INE mostram que foi o segmento da baixa tecnologia que teve maior valorização salarial. Uma evolução que não pode ser dissociada da atualização de 7,8% no salário mínimo nacional, que passou de 705 euros mensais em 2022 para os atuais 760 euros mensais.
Já no que toca aos Serviços, foi nos de mercado com forte intensidade de conhecimento que a remuneração média mais subiu, com um aumento de 10,5% em termos nominais e de 2,5% em termos reais.
Logo atrás surgem os serviços pouco intensivos em conhecimento onde, mais uma vez, terá pesado a atualização do salário mínimo nacional. Quanto aos serviços de alta tecnologia, com forte intensidade de conhecimento, surgem apenas na terceira posição, com uma subida do salário médio de 7,8% em termos nominais, que foi insuficiente para evitar uma contração em termos reais de 0,2%.
Os dados do INE não permitem uma análise sobre o impacto da negociação coletiva nos ganhos salariais. Contudo, o levantamento feito pelo Expresso a partir dos dados da Direção Geral do Emprego e das Relações do Trabalho (DGERT) sobre Instrumentos de Regulamentação Coletiva do Trabalho (IRCT) publicados nos primeiros três meses do ano apontam para valorizações salariais anuais na ordem dos 4,8% em janeiro e fevereiro e de 7,3% em março. Estes dados abrangem apenas novas convenções coletivas ou a renegociação das já existentes, nos primeiros três meses do ano, e referem-se às tabelas salariais previstas nestas convenções.
Onde é que os salários mais crescem em Portugal? É a esta pergunta que a análise aos dados publicados esta quinta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) permite responder.
Segundo a autoridade estatística nacional, o salário médio no país aumentou 7,4% no primeiro trimestre em termos homólogos, ou seja, em relação ao mesmo período do ano passado. Só que este incremento, apesar de representar uma aceleração dos aumentos salariais, ficou aquém da inflação, levando a uma perda de poder de compra no salário médio. Em termos reais, verificou-se uma queda de 0,6%.
Por trás destes grandes números estão, contudo, realidades muito diferentes para os trabalhadores em Portugal. A remuneração média subiu mais no sector privado do que no público e nas pequenas empresas mais do que nas grandes. Também há grandes diferenças por atividade económica com eletricidade, gás e turismo a registar os maiores aumentos.
Nos primeiros três meses de 2023, a remuneração bruta mensal média por trabalhador atingiu 1.355 euros, subindo 7,4% face ao primeiro trimestre de 2022. Os números apurados pelo INE abrangem as remunerações declaradas à Segurança Social (SS) e também os dados da Caixa Geral de Aposentações (CGA) e tem em conta um universo de 4,5 milhões de postos de trabalho no país, repartidos entre sectores privado e público.
O valor real do salário médio no país foi, contudo, mais baixo. Considerando o impacto da inflação, o INE chega a um valor de 1.151 euros brutos mensais no primeiro trimestre de 2023. Ou seja, menos 204 euros.
A análise da evolução das remunerações em termos reais ganhou atualidade desde o início da escalada da inflação, no final de 2021. Apesar de agora a inflação em Portugal já se encontrar numa trajetória descendente, o seu valor ainda foi expressivo nos primeiros três meses do ano e custou um preço alto aos salários.
O aumento nominal de 7,4% no salário médio não foi suficiente para compensar a subida dos preços e, em termos reais, a remuneração média voltou a cair perdendo 0,6%.
Os dados do INE mostram que, em termos reais e considerando a comparação homóloga, o salário médio em Portugal tem estado sempre a cair desde o quatro trimestre de 2021. Ou seja, há mais de um ano que o poder de compra dos trabalhadores em Portugal diminui.
TRABALHADORES DO PRIVADO GANHAM PODER DE COMPRA E DO PÚBLICO PERDEM
Há, no entanto, diferenças na evolução do salário médio entre o sector público e o privado, com desvantagem para os trabalhadores da Administração Pública (AP). É que no sector público, o aumento da remuneração média foi muito mais contido, ficando pelos 5,4% em termos nominais. Como resultado, verificou-se mesmo uma quebra em termos reais, de 2,5%.
Já no sector privado, o aumento nominal do salário médio atingiu 8,3% no primeiro trimestre. Um valor que ficou acima da inflação, levando a um ganho real de 0,3%.
O aumento de 7,4% em termos nominais no primeiro trimestre fica aquém dos 8% de crescimento salarial em janeiro e fevereiro, referidos pelo Governo na apresentação do Programa de Estabilidade, tendo em conta as declarações feitas à Segurança Social.
A explicação para esta diferença pode estar no universo de trabalhadores considerados, que, como referido acima, abrangem não apenas o sector privado (segurança social), mas também o sector público (CGA). Ora, foi precisamente no sector público que os salários menos aumentaram. Já no sector privado, a subida do salário médio ficou até acima dos 8% destacados pelo Governo.
Esta diferença entre a evolução salarial no público e no privado pode, contudo, vir a ser ligeiramente atenuada. Recorde-se que o Governo avançou com uma atualização remuneratória adicional para a função pública já este ano, de 1%, paga em abril (ou seja já fora do período em análise pelo INE), mas com efeitos retroativos a janeiro deste ano.
ELETRICIDADE, GÁS E TURISMO COM OS MAIORES SUBIDAS
As diferenças na evolução do salário médio sentem-se também por atividade económica e são expressivas. No topo das que registam maiores ganhos na remuneração média encontram-se as “atividades dos organismos internacionais e outras instituições extraterritoriais” (por exemplo trabalhadores de consulados e de instituições internacionais como as Nações Unidas), com um aumento nominal de 13,2%. Contudo, este sector tem um peso residual no emprego em Portugal.
Segue-se na lista a “eletricidade, gás, vapor, água quente e fria e ar frio”, com uma valorização salarial média de 12,2% em termos nominais. O terceiro lugar é ocupado por um peso pesado do emprego em Portugal: o “alojamento, restauração e similares” (que corresponde, grosso modo, ao sector do Turismo", com um incremento de 10%.
Fruto deste aumento nominal expressivo em todos estes três sectores, o salário médio também subiu em termos reais. Aliás, houve vários outros onde a variação nominal foi suficiente para compensar a inflação, levando a variações reais positivas.
O comportamento dos salários também foi diferenciado consoante a dimensão das empresas. Foi nas mais pequenas que os aumentos foram mais marcados, permitindo uma valorização real do salário médio.
É nas micro e pequenas empresas, com 1 a 4 trabalhadores e de 5 a 9, que a valorização nominal do salário médio é mais notória, permitindo ganhos reais. Em contraponto, nas empresas de maior dimensão (mais de 250 trabalhadores) a subida salarial foi mais modesta, conduzindo a uma degradação das remunerações médias em termos reais.
INDÚSTRIA DE BAIXA TECNOLOGIA LIDERA AUMENTOS
Numa análise à indústria transformadora, os dados do INE mostram que foi o segmento da baixa tecnologia que teve maior valorização salarial. Uma evolução que não pode ser dissociada da atualização de 7,8% no salário mínimo nacional, que passou de 705 euros mensais em 2022 para os atuais 760 euros mensais.
Já no que toca aos Serviços, foi nos de mercado com forte intensidade de conhecimento que a remuneração média mais subiu, com um aumento de 10,5% em termos nominais e de 2,5% em termos reais.
Logo atrás surgem os serviços pouco intensivos em conhecimento onde, mais uma vez, terá pesado a atualização do salário mínimo nacional. Quanto aos serviços de alta tecnologia, com forte intensidade de conhecimento, surgem apenas na terceira posição, com uma subida do salário médio de 7,8% em termos nominais, que foi insuficiente para evitar uma contração em termos reais de 0,2%.
Os dados do INE não permitem uma análise sobre o impacto da negociação coletiva nos ganhos salariais. Contudo, o levantamento feito pelo Expresso a partir dos dados da Direção Geral do Emprego e das Relações do Trabalho (DGERT) sobre Instrumentos de Regulamentação Coletiva do Trabalho (IRCT) publicados nos primeiros três meses do ano apontam para valorizações salariais anuais na ordem dos 4,8% em janeiro e fevereiro e de 7,3% em março. Estes dados abrangem apenas novas convenções coletivas ou a renegociação das já existentes, nos primeiros três meses do ano, e referem-se às tabelas salariais previstas nestas convenções.