15.5.23

Um sopro de vida

Rosália Amorim, opinião, in TSF 



A ideia de criar um banco dos pobres, há quase cinco décadas, tornou-se prémio Nobel da Paz. Esta semana, no Fórum da Sustentabilidade e Sociedade, em Matosinhos - iniciativa das marcas DN, JN TSF e Dinheiro Vivo - o fundador do banco Grameen, Muhammad Yunus, apelou às gerações mais jovens para combaterem a pobreza e construírem a paz.

Inspirador e humanista, Yunus considera que em vez do "emprego ser o objetivo maior, o grande objetivo da sociedade deveria ser empreender". Na opinião do Nobel, "quando se é empreendedor tem-se o poder nas mãos", parece que "nada é impossível para o ser humano e tudo o que tem a fazer é abrir a vossa mentalidade".Com o seu projeto de microcrédito, o homem que chegou a Nobel fez a diferença em muitas famílias, aldeias, países. E com mais de oitenta primaveras, o guru ainda não parou e deixa recados. "Não são os pobres que criam a pobreza, mas o sistema que criámos, que alimenta os ricos e não olha aos pobres. Nesse sistema que criámos, a banca cria pobreza porque não empresta aos pobres, só empresta a quem tem dinheiro." Numa altura de elevada inflação e altas taxas de juro, a frase agitou a audiência que encheu o salão nobre da Câmara Municipal de Matosinhos.

E em tempo de guerra na Ucrânia e com milhões de refugiados em extrema pobreza, Yunus tocou na ferida: "falamos muito de paz, mas não prestamos atenção a paz, só falamos de guerra. Não há um ministério da paz, nem um orçamento da paz ou uma indústria da paz", mas há um ministério da defesa, um orçamento da defesa e uma indústria da guerra. "Temos de redesenhar tudo isso", apelou enquanto se dirigia à plateia onde tinham lugar vários membros do governo e o Presidente da República.

Marcelo Rebelo de Sousa elogiou Yunus como um fazedor que começou numa pequena aldeia do Bangladesh. Para Marcelo, "Yunus é um sopro de vida num debate que tem sido tecnocrata". E deixou uma pergunta a todos: "Sustentabilidade, fazemos isto para quê e para quem?" A pergunta inquietou a plateia. A resposta? "É por causa das pessoas".

Yunus e Marcelo, unidos numa especial de lição de combate pela sustentabilidade, falaram de temas que, apesar de atuais, não se limitam à espuma dos dias é isso faz falta à democracia.