7.6.23

Síndrome de Tourette: uma vida cheia de tiques e de “autodescoberta”

Inês Pinto Pereira, in Público


Os tiques não escolhem hora ou dia para aparecer e podem dificultar a realização de algumas tarefas do dia-a-dia. O PÚBLICO ouviu quatro testemunhos para entender as implicações da doença.

Foram precisos 43 anos para ter o diagnóstico de Síndrome de Tourette (ST), mas os tiques estão presentes na vida de Gil Trindade, agora com 48 anos, desde que era criança. André Borges, de 42 anos, tem tiques desde os oito, mas só no ano passado procurou ajuda especializada, uma vez que os sintomas da síndrome se intensificaram na idade adulta. Os tiques podem ter uma grande influência na vida social e laboral destas pessoas, como é o caso de Diogo, que teve de abandonar a escola precocemente, e de José, que se reformou aos 24 anos. Para eles, a Síndrome de Tourette, cujo Dia Europeu se celebra a 7 de Junho, é uma "autodescoberta".

A ST é diagnosticada "pelo aparecimento e persistência de tiques" simples e complexos, que deverão manifestar-se com frequência durante pelo menos um ano e que habitualmente geram "interferência no funcionamento social e pessoal do indivíduo", afirma Ana Araújo, médica de psiquiatria do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra. Estes movimentos involuntários, que se repetem várias vezes ao dia, podem ser motores quando, por exemplo, alguém encolhe os ombros, bate palmas ou abana a cabeça. Ou podem ser fónicos, que acontece quando se tosse ou se reproduz sons. Um tique é "como se fosse uma comichão que eu tenho de coçar. É algo que eu tenho de fazer, senão não me sinto bem", afirma Diogo, de 25 anos, cujos tiques apareceram por volta dos sete anos. "Inicialmente era só piscar os olhos com muita força", numa frequência de "cinco vezes a cada minuto ou mais".

[Artigo exclusivo para assinantes]