2.12.08

Banco Alimentar contra a Fome bate novo recorde

Helena Teixeira da Silva, in Jornal de Notícias

Campanha realizada este fim-de-semana em Portugal recolheu 1905 toneladas de alimentos


Com a economia a estagnar, os preços e o desemprego a subirem, os portugueses vivem cada vez pior. Apesar disso - ou se calhar por isso -, ajudam cada vez mais quem precisa. O Banco Alimentar Contra a Fome prova-o.

A campanha realizada neste fim-de-semana em 1119 grandes superfícies nacionais recolheu 1905 toneladas de alimentos. É um novo recorde para a instituição que chegou a Portugal há 16 anos.

"É extraordinária a vontade de colaborar dos portugueses", observou, ao JN, Isabel Jonet, presidente do Banco Alimentar (BA). "A crise tem muito a ver com o que conseguimos". Anteontem, uma senhora dizia-lhe: "Vou ajudar enquanto posso; quem sabe se amanhã não serei eu a precisar?" "Os portugueses antecipam que vêm aí tempos muitos difíceis".

Neste momento, "já há cerca de 2,5 por cento da população portuguesa a ser ajudada pelos produtos entregues pelos BA. Há os chamados novos pobres, famílias com créditos cujo um dos cônjuges perdeu o emprego; há a geração 400 euros, famílias inteiras a viver desse rendimento; há os desempregados, todos os que pedem ajuda". Mas Isabel Jonet preocupa-se sobretudo com os idosos. "Em Portugal há um milhão de idosos a viver com menos de 300 euros por mês. Não podemos esquecer-nos de que os alimentos sofreram uma inflação entre 30% e 40%. Isto obriga os idosos a escolherem entre comer ou tomar a medicação. Eles preferem a medicação porque acreditam que isso lhes vai prolongar a vida".

A distribuição dos alimentos recolhidos começa hoje e deverá chegar a cerca de 245 mil pessoas carenciadas. "Não se trata de criar dependências a essas pessoas, mas de um auxílio - às vezes, pontual -, para as ajudar a mudar de vida", explica a presidente do BA.

Finalmente, há uma espécie de colaboração que não pode ser materializada em bens alimentares, mas sem os quais a campanha não resultaria: são os 20 mil voluntários que, apesar das baixíssimas temperaturas registadas no fim-de-semana, não arredaram pé da porta dos supermercados. "É a maior acção de voluntariado vista em Portugal desde o pós-guerra", orgulha-se Isabel Jonet.