Patrícia Jesus, in Diário de Notícias
Dinheiro. Na quadra do Natal fala-se mais em gastar do que em poupar, mas em altura de crise, é aconselhável pensar duas vezes no destino do subsídio de Natal. Especialistas da Centre Finance e da Deco - Defesa do Consumidor - fazem algumas recomendações e alertam para os riscos que envolvem algumas aplicações financeiras
Saldar dívidas, sobretudo se os juros forem altos, deve ser primeira opção
João e Alexandra, de 24 e 27 anos, respectivamente, compraram casa este ano e, por isso, os 2400 euros que vão receber de subsídio de Natal, ou pelo menos parte dele, já têm destino: comprar "coisas que fazem falta para casa", diz Alexandra. "Quanto ao resto, estamos indecisos. Talvez pôr no Plano Poupança Reforma (PPR)", observa.
Encontrar destino para o subsídio de Natal não é uma tarefa difícil para a maior parte dos portugueses: e, geralmente, o consumo vem à frente da poupança. Mas, em altura de crise, vale a pena ponderar bem e pensar em poupar, alertam os especialistas.
Pegando no caso do João e da Alexandra, Luís Rodrigues, da consultora Centre Finance, diz que "face ao montante disponível (2400 euros), a melhor solução é o reforço do PPR". O PPR tem um benefício fiscal de 20% do montante entregue até um máximo de dois mil euros e de 400 de abatimento por pessoa (para sujeitos abaixo dos 35 anos de idade), explica.
António Ribeiro, da Deco - Associação de Defesa do Consumidor, confirma que nesta altura do ano os PPR são muito procurados por causa dos benefícios fiscais, mas avisa que, uma vez que é um produto com muito pouca liquidez, só compensa depositar até ao montante que permite receber benefícios e é mais indicado para quem tem mais de 40 anos.
Para muitas outras famílias, a questão não é onde investir, mas o que pagar. É o caso de António e Carla, de 45 e 37 anos. Com duas crianças -de dez e seis anos - há sempre despesas imprevistas, explicam, e por isso estavam à espera dos 1800 euros dos subsídios de Natal para pagar o seguro do carro e parte dos 800 euros de dívida num cartão de crédito.
O responsável operacional da Centre Finance considera que a situação de António e Paula "aparenta estar demasiado próximo do limite de endividamento da família".
"É menos raro do que gostaríamos, analisarmos a situação de uma família e a resposta ser 'não há condições para se endividarem mais'. Geralmente, as pessoas procuram-nos quando já estão com problemas", refere. Quando é o caso, a prioridade deve ser tentar "reduzir o montante a pagar com as despesas fixas e de crédito", afirma.
Experiências semelhante têm os gabinetes de apoio ao sobreendividamento da Deco, que vêem chegar cada vez mais famílias. Por isso, o principal conselho é não se endividar mais no Natal. Quando usar cartão de crédito, convém pagar as despesas na totalidade durante o período de crédito gratuito (normalmente, entre 20 a 50 dias), porque as taxas são muito altas. Tal como as taxas de empresas de crédito rápido. Saldar essas dívidas deve ser prioritário, aconselham os especialistas.
Finalmente, se sobrar dinheiro para poupar e investir, quando se trata de uma nova aplicação, compensa procurar alternativas e considerar a oferta de todos os bancos, diz António Ribeiro.
"Neste momento, o rendimento líquido no depósito a um ano pode variar entre os 0,3% e os 5,2%, por isso vale a pena procurar", conclui. E claro, ler sempre "as letras pequenas", já que há muitos bancos que anunciam produtos com taxas de dois dígitos para captar a atenção do cliente, mas as condições mudam ao fim do primeiro mês.