Catarina Almeida Pereira, in Diário de Notícias
Emprego. Processos de despedimento colectivo em 87 empresas lançaram, só no terceiro trimestre, mais de 1500 pessoas para o desemprego. E os 155 processos registados de Janeiro a Setembro já ultrapassam os números de todo o ano de 2007. O Norte é, por tradição, a região mais afectada
Pequenas e micro empresas são as mais afectadas
Os processos de despedimento colectivo mais do que duplicaram no terceiro trimestre, em comparação com o mesmo período do ano anterior, enquanto o número de desempregados quase triplicou. Os dados da Direcção-Geral do Emprego e das Relações de Trabalho mostram que de Julho a Setembro, 87 empresas concluíram processos de despedimento colectivo, que lançaram 1509 pessoas para o desemprego. Em período homólogo, os processos tinham envolvido 32 empresas e resultado em 446 despedimentos efectivos.
Desde o início do ano que a cada trimestre que passa o número de processos e de desempregados aumenta de forma inequívoca (ver gráfico 1). A informação disponível mostra que 2008 será, provavelmente, um ano pior: os processos concluídos até Setembro (155) equivalem já ao total registado durante todo o ano passado e o número de despedidos (2591) é já superior. Nestes primeiros nove meses de 2008, o Norte de Portugal foi a região mais afectada, com 43% das empresas e mais de metade do total de pessoas afectadas. Os processos foram mais frequentes em pequenas e microempresas, que de Janeiro a Setembro desencadearam 77% dos casos. As grandes empresas concluíram menos processos (8% dos casos), mas que tiveram, naturalmente, mais impacto na população (36% do número de desempregados).
Apesar da região norte ser tradicionalmente a mais afectada e manter ainda a predominância nos casos acumulados desde o início do ano, os dados mais recentes apontam para um agravamento da situação na região de Lisboa e Vale do Tejo. No terceiro trimestre deste ano, 42 processos resultaram em 408 despedimentos, o que corresponde a uma pro- porção anormalmente alta para esta região do País.
Mais de 4 mil em risco
O Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social publica ainda dados sobre os processos abertos e sem desfecho confirmado. Também estes foram aumentando à medida que os trimestres passavam. Desde o início do ano foram iniciados 230 processos de despedimento colectivo (97 no terceiro trimestre) que ameaçaram 4171 postos de trabalho (mais de 2000 no terceiro trimestre). No mesmo período do ano passado, não foram além de 184 empresas e cerca de 3000 postos de trabalho ameaçados. Quase metade dos processos abertos este ano está localizada em Lisboa e Vale do Tejo, sendo o Norte a segunda região em risco.
O contexto económico não é o mais favorável à resolução pacífica destes casos. Com uma economia que hesita entre a estagnação e a recessão, os empresários terão mais dificuldade em manter emprego. A análise das instituições mais credíveis apontam, aliás, para a provável destruição de postos de trabalho. A Comissão Europeia prevê que em 2009 a economia deixe de criar emprego; a OCDE é mais dramática ao sugerir uma redução de 0,5%.
O agravamento do cenário foi, aliás, confirmado, pelos últimos dados oficiais. O Instituto Nacional de Estatística revelou que a taxa de desemprego foi de 7,7% no terceiro trimestre deste ano. O Instituto de Emprego e Formação Profissional revelou uma subida do número acumu- lado de desempregados, pela primeira vez em 31 meses.