2.12.08

Consumidores cortam no peixe e na carne de vaca

Céu Neves, Vasco Neves, in Diário de Notícias

Alimentação. O bife de vaca está a ser substituído pelo de frango e de peru. Em vez de garoupa, come-se carapau grande. E os produtos em fim do prazo a metade do preço já têm clientes certos. Tudo para enfrentar a crise. Mas dinheiro não é sinónimo de alimentação saudável, defende nutricionista


Corta-se na carne de vaca e na garoupa, come-se mais frango e carapau, procura-se a fruta mais pequena, as promoções e os produtos de marca branca, toma-se o pequeno-almoço em casa ou leva-se lancheira para o trabalho. E assim os portugueses alteram os hábitos alimentares para fazer face à crise. Já quem vende os produtos mais caros queixa-se de quebras de mais de 30%.

"Verifica-se uma alteração nos tipos de produtos consumidos, procurando-se alimentos mais baratos (frango em vez de vaca, por exemplo), e assiste-se a um desvio de certos bens de consumo para marcas próprias", sintetiza um representante da Confederação do Comércio Português. Acrescenta que, de uma maneira geral, todas as áreas do comércio e serviços estão a ser afectadas pela crise.

Os hipermercados e supermercados preferem manter o segredo do negócio e nem a associação que os representa responde às perguntas do DN. A excepção é o grupo Jerónimo Martins (Pingo Doce, Feira Nova e Recheio), que diz sentir "alguma insegurança no consumidor". A estratégia do grupo foi a aposta em produtos de marca própria, incluindo os considerados de luxo, como o salmão fumado, o camembert e as bebidas de soja. Entre 2006 e 2007, a quota de marca Pingo Doce cresceu 35,9%, representando já cerca de 40% das vendas (excluindo perecíveis).

Num mercado municipal, explicam-nos, há sempre uma parcela de clientes fiéis e outros que procuram as promoções. E as bancas com saldos, acrescentam, são as de maior frequência, embora praticamente todos os comerciantes se queixem da falta de clientes.

"A nossa fruta é um pouco seleccionada, por isso, temos preços mais caros e sentimos uma quebra de mais de 30%. Há clientes que continuam a comprar, mas outros perguntam se não temos fruta mais barata", diz Susana Silva, 32 anos. Vende há dez no Mercado de Benfica. Luísa Proença e Dália Batista, peixeiras, registam uma diminuição de vendas ainda mais elevada. "Já não há dias bons", lamentam.

Quebras confirmadas por Mário Costa, 45 anos, fiscal, que há duas semanas trocou o Mercado de Arroios pelo de Benfica. "Este é o maior e um dos melhores dos 21 mercados municipais de Lisboa. É o único que tem todas as bancas a funcionar. O de Arroios está bem pior." Além da crise, os mais novos preferem os supermercados, sector que lhes faz uma concorrência cada vez maior.

O talho é o lugar onde as pessoas mais tentam defender-se, substituindo as variedades caras por outras mais acessíveis. "As pessoas viram-se para as aves e tivemos um aumento de 20% no consumo destas carnes. As vendas de porco mantêm-se e as que diminuíram foram as de vaca. O que se vende menos é o bife de lombo", explica Paulo Camões, 38 anos, do Talho do Carlos, na Estrada de Benfica.

Na mesma rua, o café Califa não se queixa da falta de frequência. Contudo, um dos empregados mais antigos, José Costa, 64 anos e há 33 no estabelecimento, observa: "Antigamente, as pessoas tomavam mais o pequeno-almoço. Agora temos mais almoços e as pessoas defendem-se com as meias doses, entre 5,75 e 6,95 euros.