Bárbara Wong, in Jornal Público
Instituições do ensino terciário têm de estar atentas às mudanças demográficas, aconselha OCDE em estudo que faz projecções até 2030
Nos próximos 22 anos, o investimento no ensino superior poderá ser inferior ao que actualmente é feito. A razão é simples: com o envelhecimento da população, as prioridades dos governos serão outras.
Contudo, as previsões apontam para que o acesso ao ensino superior continue a crescer até 2025, em média 16 por cento, na quase totalidade dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) - as excepções são a Coreia do Sul e a Polónia. O prognóstico é feito pela OCDE, no relatório Ensino Superior até 2030: Demografia.
O estudo vai ser discutido pelos ministros e secretários de Estado de alguns países da OCDE e pelo comissário europeu para a Educação, Jan Figel, hoje e amanhã, em Paris. Portugal far-se-á representar por Manuel Heitor, secretário de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior.
As implicações para a despesa pública do envelhecimento da população, na maior parte dos países da OCDE, pode levar muitos governos a decidir condicionar o investimento neste sector de ensino.
É que a taxa de dependência - ou seja, a diferença entre a percentagem de pessoas que trabalham e as que já não o fazem - vai aumentar, em média, de 26 para 42 por cento, nos países da OCDE. Se olharmos apenas para a Europa dos 15, Portugal incluí-do, subirá de 36 para 54 por cento, entre 2005 e 2030.
Portugal crescerá pouco
A evolução poderá ser por um de dois caminhos. Por um lado, a despesa pública no ensino superior pode diminuir em detrimento dos gastos com pensões, saúde e assistência social. Por outro, pode ser dada maior importância ao ensino superior, porque os mais velhos beneficiam do seu desenvolvimento, ainda que indirectamente (por exemplo, no desenvolvimento da investigação em áreas como a saúde).
No entanto, salienta o relatório, é importante a aposta no ensino superior, em benefício do desenvolvimento dos países. Se os estudantes forem bem formados, poderão contribuir para a inovação.
Mas essa aposta não pode ficar apenas pelas camadas mais jovens - a educação ao longo da vida é cada vez mais uma prioridade.
As projecções apontam para um aumento da população licenciada em todos os países da OCDE. De acordo com os números de 2005, 26 por cento da população da OCDE entre os 25 e os 64 anos tinha uma licenciatura; esse valor poderá aumentar para 36 em 2025.
Portugal é dos países que contribuem para que este aumento não seja maior, pois cresce apenas seis pontos percentuais. Em 2025, apenas 19 por cento da população portuguesa terá um diploma.
Por seu lado, a Espanha dará um salto de 18 pontos percentuais, para 46 por cento. No entanto, salvaguarda o relatório, estes são apenas cenários que dependem das políticas desenvolvidas.
Universitários adultos
Ainda segundo o relatório, nas próximas décadas o ensino superior pode mudar de rosto. Se hoje os alunos ainda são predominantemente os jovens que terminam o secundário, amanhã serão esses mas também os adultos e mesmo a população mais velha. Para esses será preciso criar novas ofertas e adaptá-las ao mercado.
Há outros públicos novos, por exemplo, nos países onde a imigração é mais intensa, como é o caso de Portugal, onde os imigrantes e as minorias começarão a chegar em número mais significativo ao ensino superior. A OCDE defende que as instituições terão de estar mais sensíveis ao acolhimento dos novos alunos.
Abrir o acesso a estes grupos é essencial para o futuro, ou seja, para melhorar o bem-estar social e económico não só dessas pessoas, mas também do país de acolhimento, conclui a organização.
19%
é a percentagem da população portuguesa
que, na projecção da OCDE, terá um diploma superior em 2025