Alexandra Campos, in Jornal Público
Sem acesso a medicamentos, metade das crianças com VIH morrerá de uma causa relacionada com o vírus antes do seu segundo aniversário
O diagnóstico e tratamento precoces podem salvar a vida de muitos recém-nascidos expostos ao VIH. Um relatório conjunto de quatro agências das Nações Unidas divulgado ontem, Dia Mundial da Sida, recorda que as taxas de sobrevivência são consideravelmente mais elevadas para os recém-nascidos seropositivos que comecem o tratamento nas primeiras 12 semanas de vida. "Sem o tratamento adequado, metade das crianças com VIH morrerá de uma causa relacionada [com o vírus] antes do seu segundo aniversário", alerta Ann Veneman, directora executiva da Unicef.
Intitulado As crianças e a sida, terceiro balanço da situação, o relatório alude a um estudo sul-africano recentemente divulgado (The children with HIV early antiretroviral therapy), que demonstra uma redução de 76 por cento da mortalidade quando o tratamento é iniciado naquele período. Nas crianças, a idade média em que o diagnóstico é feito oscila entre os cinco e os nove anos.
A realização de testes de despistagem do VIH antes dos dois meses de idade continua a constituir a excepção: em 2007, menos de 10 por cento dos bebés nascidos de mães seropositivas tinham efectuado este diagnóstico.
Ainda assim, nos últimos anos verificaram-se grandes avanços a este nível em alguns dos países mais atingidos, como a África do Sul, Malawi, Moçambique, Quénia, Ruanda, Suazilândia e Zâmbia. Em Moçambique, por exemplo, a despistagem precoce nos bebés aumentou de três para 46 por cento entre 2004 e 2007. E o número de países de baixo e médio rendimento que arrancou com o diagnóstico a partir de amostras de sangue seco (método que permite a recolha quando não existe uma cadeia de frio ou laboratórios no local) passou de 17 em 2005 para 30, no ano passado.
"Constatamos que tem havido progressos em muitos países, especialmente em certas regiões de África, mas temos que aumentar significativamente a despistagem e o tratamento das mulheres grávidas", acentua Peter Piot, director executivo da ONUsida. Relativamente às mulheres infectadas, poucas (18 por cento) tiveram acesso a diagóstico e aconselhamento e só 12 por cento daquelas cujo teste deu positivo fizeram mais exames para determinar a fase da doença e o tipo de tratamento adequado.
O relatório sublinha ainda que a prevenção deve incidir também nos mais jovens, uma vez que 45 por cento das novas infecções acontecem entre os 15 e os 24 anos. E, no último capítulo, defende a expansão dos cuidados para os cerca de 15 milhões de crianças que em todo o mundo perderam um ou ambos os pais devido à sida.