9.12.08

Portugal arrisca recessão técnica em 2008

in Jornal de Notícias

(Em actualização) A economia portuguesa recuou 0,1 % no terceiro trimestre face ao três meses anteriores, arriscando entrar em recessão técnica ainda em 2008, e cresceu 0,6 % em termos homólogos, de acordo com o INE.

Segundo as Contas Nacionais Trimestrais que o Instituto Nacional de Estatística (INE) acaba de divulgar, as taxas de variação em cadeia e homóloga do Produto Interno Bruto (PIB) foram revistas em baixa em 0,1 pontos percentuais face à estimativa rápida de 14 de Novembro.

Se a economia voltar a registar um crescimento negativo no quarto trimestre, Portugal entrará mesmo em recessão técnica em 2008 (recessão técnica verifica-se quando o PIB, em cadeia, se fixa em terreno negativo em dois trimestres consecutivos).

A revisão em baixa em 0,1 pontos percentuais face à estimativa rápida foi determinada "sobretudo pela informação mais recente sobre o comércio internacional entretanto disponível, nomeadamente no que diz respeito às exportações nominais de bens e deflatores", refere o INE.

No segundo trimestre, o PIB tinha crescido, em cadeia, 0,3 por cento. Para a quebra agora verificada contribuiu decisivamente a aceleração das importações (que passaram de uma variação negativa de 2,6 por cento para um aumento de 1,1 por cento), impulsionadas pela aceleração do consumo privado (que de uma diminuição de 0,2 por cento passou para uma variação positiva de 1,1 por cento).

Emprego diminuiu

Na nota enviada à comunicação social, o INE faz, ainda, contas ao emprego em Portugal. Segundo os dados revelados, “o emprego total para o conjunto dos ramos de actividade da economia, corrigido de sazonalidade, diminuiu 0,2%, no terceiro trimestre”, em comparação com o crescimento de 1,25 registado no trimestre anterior.

O emprego por conta de outrem, também corrigido de sazonalidade, “desacelerou de forma expressiva”, passando de uma variação de 1,5% no 2º trimestre de 2008 para 0,3% no terceiro trimestre.

Só comércio e restaurantes melhoraram

A desaceleração da economia é bem visível no ramo da construção, como Valor Acrescentado Bruto (VAB) a reduzir-se em 4,2% no terceiro trimestre de 2008, face a igual período do ano anterior, abaixo do verificado no segundo trimestre (variação de -1,6%9. “Este comportamento traduziu-se num contributo de 0,2 pontos percentuais para o crescimento do VAB com impostos”, pode ler-se.

Ao nível da indústria, o VAB “registou também uma variação homóloga negativa (-1,3% em volume), igualmente “mais intensa do que a registada no trimestre anterior (-1,1%). O VAB de Outros Serviços também, desacelerou, notando-se “uma diminuição de 0,1 pontos percentuais no contributo para a variação homóloga do VAB com impostos”.

Em sentido contrário, nota o INE, o VAB do “Comércio, Restaurantes e Hotéis acelerou, passando de um crescimento homólogo de 0,6% no 2º trimestre de 2008 para 1,05 no trimestre seguinte”. Consequências, estima-se, da “alteração da taxa normal do IVA”, de 21 para 20%.

Exportações continuam a cair

As exportações caíram 1 % no terceiro trimestre, uma variação ainda assim menos acentuada que a verificada no segundo trimestre, período em que tinham diminuído 1,5 %.

O investimento registou uma ligeira subida de 0,1 % no terceiro trimestre, contra uma quebra de 0,9 % no segundo trimestre.

Os gastos do Estado mantiveram-se praticamente inalterados, com um crescimento de 0,1 no terceiro trimestre depois de uma variação nula no período anterior.

Já em termos homólogos, o crescimento de 0,6 % traduz uma ligeira desaceleração relativamente ao trimestre anterior, período em que o PIB tinha crescido 0,7 %.

Procura interna continua a desacelerar

A procura interna continuou a desacelerar, registando um contributo para o crescimento do PIB de 1,2 pontos percentuais no terceiro trimestre (menos 0,2 pontos percentuais que no anterior), "em consequência da diminuição do investimento (-1,4 por cento em termos homólogos), que mais do que compensou a aceleração do consumo privado", explica o INE.

O INE refere ainda que o contributo da procura externa líquida foi de menos 0,6 pontos percentuais, tendo-se registado uma desaceleração das exportações e importações de bens e serviços. Com efeito, os dados mais recentes para o comércio internacional apontam para uma variação homóloga de 0,7 por cento no terceiro trimestre, contra uma taxa de 1,8 por cento no trimestre anterior.

"Esta desaceleração foi comum às componentes de bens e serviços, com a primeira a passar de uma variação de 1,2 por cento para 0,9 por cento e a segunda a passar de 3,8 por cento para 0,1 por cento do segundo para o terceiro trimestre", refere o Instituto Nacional de Estatística.

As importações de bens e serviços também abrandaram, ao registarem uma variação homóloga de 1,8 por cento no terceiro trimestre, menos 1,2 pontos percentuais que no trimestre anterior.

Em termos nominais, o saldo da Balança de Bens e Serviços, medido em percentagem do PIB, "agravou-se significativamente", ao passar de -8,9 % para -10 % no período em análise.

As despesas de consumo das famílias registaram uma variação positiva de 2,3 % no terceiro trimestre, acelerando face ao 1 por cento verificado no anterior. Este comportamento foi determinado pela componente de bens duradouros (automóveis e outros), que registou um aumento de 2,3 %, depois de ter diminuido 6,2 por cento no segundo trimestre.

O investimento diminuiu, em termos homólogos, 1,4 % no trimestre em análise, depois de ter crescido 3,2 no segundo, o que se traduziu num contributo de -0,3 pontos percentuais para o crescimento homólogo do PIB. No trimestre anterior, o contributo tinha sido de 0,7 pontos percentuais.