4.12.08

Procura de apoios junto da AMI cresceu 20%

Ana Tomás Ribeiro, Leonardo Negrão, in Diário de Notícias

Pobreza. Já em 2007, o número de beneficiários de ajudas da AMI em Portugal cresceu 20%. O mesmo aumento deverá verificar-se em 2008, comparativamente ao ano passado. E, em 2009, vai agravar-se, diz o médico Fernando Nobre. Inversamente, os donativos sofreram quebras entre 5% e 10%


A procura de apoio social junto dos 11 Centros Porta Amiga da AMI - Assistência Médica Internacional, espalhados por vários pontos do País, regista este ano um crescimento de 20%, comparativamente a 2007. Um aumento idêntico ao verificado no ano passado relativamente a 2006, mas que "vai agravar-se em 2009", como consequência da crise, do aumento do custo de vida, do desemprego, da precariedade do emprego, das reformas baixas e do baixo salário mínimo. Quem o diz é Fernando Nobre, o presidente daquela ONG. Já em 2007, explica, "só no distrito do Porto, onde a AMI distribui entre 500 a 700 toneladas de excedentes alimentares da União Europeia por ano, o número de beneficiários triplicou em relação a 2006". Face a esta situação, a AMI distribui menos a cada pessoa para" poder dividir o mal pelas aldeias".

Nos centros Porta Amiga da AMI, contudo, os portugueses não procuram só alimentos, pedem também roupas e medicamentos, adianta Ana Martins, outra das responsáveis da ONG.

São as consequências da crise, mas não só, realça Fernando Nobre. " Em Portugal há uma pobreza estrutural" que, na prática, abrange cerca de 40% da população. E o combate a esta pobreza, defende, deveria ser uma causa nacional, não só do Governo, mas de todos os portugueses.

Contudo, o aumento da procura não é o único efeito da crise. Com ela, os donativos também diminuíram. E, no caso da AMI, a quebra em 2008 deverá situar-se entre 5% e 10%. Porque "a nossa classe média, a que mais contribui - a classe alta participa mais por iniciativas ligadas às empresas e a título individual esporadicamente -, está apertada e a deitar contas à vida", diz Fernando Nobre, acrescentando que em 2009 a situação será mais difícil.

Assim, a AMI gere-se hoje entre duas grandes pressões. No terreno as solicitações crescem, tanto em Portugal como no estrangeiro, onde já está em 44 países, distribuídos pela África, Ásia, América Latina e Europa de Leste. Por outro lado, as receitas diminuem, admite o seu presidente. Além disse, a gestão financeira dos activos da instituição, tal como a de outras, sofreu os impactos da crise. "Apesar de só termos 8% em acções, estas desvalorizaram-se", reconhece o médico.

Por isso, "este será o primeiro de 24 anos em que a AMI não cresceu. Será um ano de entradas e saídas".

Mesmo assim, em 2009, a organização espera abrir mais dois centros de apoio social, a somar aos 11 que já tem em Portugal, um em Ponta Delgada e um segundo em Almada. "Porque sempre fizemos a gestão da formiga. Agora temos algumas gorduras para podermos emagrecer." Se a retoma económica ajudasse, em meados de 2009 poderiam fazer mais. Mas Fernando Nobre receia que isso não aconteça. "Do que leio, nada me garante que não entraremos ainda em 2010 com problemas globais graves", afirma.