26.10.16

"Engolem-se" sapos contra a discriminação

Bela Coutinho Figueira, in Diário de Coimbra

Bela Coutinho Rui Farinha é repórter fotográfico e andou pelo país (de Braga ao Algarve), acompanhado de elementos de etnia cigana, a sensibilizar o comércio local para a retirada dos sapos da porta de entrada de estabelecimentos comerciais.
Dos 44 estabelecimentos visitados, conseguiu esse propósito em 22 e o resultado é o conjunto de fotografias (e os sapos “resgatados”), que está patente no piso superior do Mercado Municipal. Iniciativa que se insere no projecto “Não engolimos sapos”, que o Movimento SOS Racismo está a desenvolver, no âmbito do FAPE (Fundo de Apoio à Estratégia Nacional para a Integração das Comunidades Ciganas).
Ontem, na inauguração da exposição, Rui Farinha salientou que as 16 fotos «não caracterizam o trabalho de campo», até porque, para concretizar o projecto, precisou de se integrar na comunidade cigana das várias cidades por onde andou e «o trabalho para chegar às fotografias foi a parte mais enriquecedora», disse, sublinhando que esta campanha visa «alertar os paítos» (nome dado aos não ciganos), para perceberem porque estão os sapos à porta (hábito que se baseia numa crença ancestral da minoria cigana e que pretende impedi-la de aceder a bens e serviços).

O vereador da acção social considera que este preconceito da sociedade, «nem sequer estáde acordo com a economia de mercado, que é livre», disse, e lamentou que ainda haja pessoas a utilizar o sapo. «Esta exposição é a prova que não resulta», sublinhou António Tavares, querendo «rebater preconceitos», sejam eles «de género, cor de pele, cultura e outros», focando o «esforço» da autarquia, com vários programas para «tentar aos poucos mudar a forma de pensar preconceituosa». Para Bruno Gonçalves, formador de mediadores da comunidade cigana, o trabalho de integração faz-se «gradualmente em rede, são passos lentos, mas o caminho faz-se caminhando». Na Figueira, disse, «o problema é o emprego», apesar de terem «um nível escolar bastante elevado, mas o acesso é difícil, por preconceito e pela crise». Enaltecendo o trabalho que tem sido desenvolvido pelo Grupo Activo Comunitário Cigano (GACC), e os «passos dados na emancipação da mulher cigana» e analtece os seis jovens universitários figueirenses daquela etnia, dos quais três são mulheres.

| Mercado Municipal mostra fotos contra discriminação Minorias “Não engolimos sapos” é a exposição que visa sensibilizar os comerciantes que, para evitar que os ciganos entrem, colocam sapos à porta das lojas BELA COUTINHO Grupo da comunidade cigana que, com Rui Farinha, conseguiu “resgatar” sapos Números 900 Elementos de etnia cigana ha bitam no concelho da Figueira 6 Jovens ciganos da Figueira frequentam o ensino superior (três mulheres e igual número de homens) 22 das 44 lojas visitadas aceitaram retirar os sapos da entrada