28.10.16

Richard Wilkinson: "A desigualdade é corrosiva da sociedade"

Filipe S. Fernandes, in Negócios on-line

Não se deve procurar o crescimento económico per si, mas sim um crescimento do bem-estar de todos e de forma equilibrada.

"A desigualdade é corrosiva da sociedade", afirmou Richard Wilkinson, professor emérito de Epidemiologia Social na University of Nottingham Medical School e professor honorário na University College of London e visiting professor na University of New York. Na sua opinião as sociedades têm de reflectir sobre os seus próprios caminhos referindo que não se deve procurar "o crescimento económico por si só, mas sim um crescimento com bem estar".

Richard Wilkinson aludiu a uma pesquisa sobre a pobreza, que entrevistou e comparou os padrões de vida de pobres na Uganda, Índia, China, Paquistão, Coreia, Reino Unido e Noruega. Encontraram-se diferenças assinaláveis quanto à vida material em cada um dos casos. Na Índia um pobre é desprovido de quase tudo, na Noruega tem uma casa e televisão, mas "a experiência de pobreza dos entrevistados em várias sociedades era muito similar", pois sentem a mesma exclusão, a falta de auto-estima, de quem está no ponto mais baixo da pirâmide social. Citou o antropólogo Marshall Shalins, que escreveu que "a pobreza não tem que ver com a quantidade de bens, nem é só uma relação entre meios e fins; acima de tudo, é uma relação entre pessoas. A pobreza é um estado social. Como tal, ele é a invenção de civilização".

A questão da desigualdade é mais relevante no interior das sociedades e dos países do que entre países. Um dos padrões nas apresentações de Richard Wilkinson é a comparação entre a esperança de vida e o rendimento per capita. Por exemplo, apesar de a Noruega e os Estados serem duas vezes mais ricos do que Israel, Grécia, Portugal, não têm grandes diferenças na esperança de vida. Quando se olha dentro para dentro das sociedades acentuam-se as diferenças na esperança de vida, o que mostra as diferenças sociais e os seus reflexos da saúde. O rendimento tem influência e relação no interior das sociedades, mas não entre países. "A explicação para esse paradoxo é que, nas nossas sociedades, existem diferenças de rendimento, de posição social, de status social - onde estamos uns em relação aos outros e a dimensão da diferença, se é maior ou menor entre os mais ricos e os mais pobres. A desigualdade cria diferenças que não são apenas materiais e económicas, mas sociais e psicológicas, de saúde, educação". Para mais, as desigualdades sociais aumentam o consumo conspícuo e o consumismo."

Construiu um índice com os principais problemas que afectam a base da pirâmide como a mortalidade infantil, a taxa de homicídios, a população prisional, a gravidez de adolescentes, a esperança de vida, desempenho educativo, mobilidade social, a obesidade, o índice de confiança, saúde mental, que inclui as adicções como a droga e o álcool que deu origem à sua obra seminal, "O Espírito da Igualdade", que Richard Wilkinson escreveu com Kate Pickett. Concluiu que os países mais desiguais como Portugal, Estados Unidos e Reino Unido tinham os piores resultados neste índice e os menos desiguais são o Japão e os países nórdicos. Procurou mostrar como as desigualdades de rendimento podem ter consequências negativas para a sociedade como um todo, e não apenas para parcelas mais ou menos bem circunscritas da população. E muitas vezes a sociedade reage de forma errada. Como referiu Richard Wilkinson, em muitos países não se luta contra a desigualdade, fazem-se mais prisões e aumenta-se a segurança. Nesses países, "os serviços de segurança (privada, polícia, guardas prisionais) crescem com as desigualdades", assinalou Richard Wilkinson. Além disso "nos países em que o fosso entre ricos e pobres é maior tendem a ter sistemas de saúde pública precários".