5.12.19

PISA 2018: Situação socioeconómica continua a influenciar resultados dos estudantes

Por Sara Beatriz Monteiro e Rui Polónio, in TSF

Só na área da Leitura, os alunos privilegiados superaram os alunos desfavorecidos em 95 pontos no PISA 2018. Ainda assim, cerca de 10% dos estudantes desfavorecidos em Portugal conseguiram atingir os melhores níveis de desempenho no mesmo domínio.

A situação socioeconómica dos estudantes foi, mais uma vez, um fator com influência no desempenho dos alunos nas áreas da Leitura, Matemática e Ciências em Portugal. A conclusão é do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA) 2018, o estudo internacional trienal que avalia a literacia dos alunos de 15 anos de idade nestes três domínios.
Perante estes resultados, o secretário de estado adjunto da Educação, João Costa reconhece à TSF que é preciso atuar. "O primeiro passo é começar o mais cedo possível e agir aos primeiros sinais de dificuldade. Investir, como está previsto, nas estratégias de recuperação, mas sobretudo continuar o trabalho que foi começado na legislatura anterior e dar autonomia às escolas para poderem criar medidas de apoio dirigidas a grupos específicos. Há um dado interessante no PISA: a pobreza não é determinante."

De acordo com o estudo, na área da Leitura, os alunos privilegiados superaram os alunos desfavorecidos em 95 pontos no PISA 2018, sendo que a média da OCDE é de 89 pontos. Em 2009, a diferença de desempenho relacionada com a situação socioeconómica dos alunos portugueses era de 87 pontos, ou seja, a diferença de desempenho entre pobres e ricos acentuou-se.
Também na área da Matemática e das Ciências, a situação socioeconómica dos estudantes revelou ser um fator de influência nos resultados. Registou-se uma variação de desempenho entre favorecidos e desfavorecidos de 17% no domínio da Matemática (comparado com 14% em média nos países da OCDE) e uma variação de 16% no domínio das Ciências (em comparação com a média da OCDE de 13% da variação).

Ainda assim, cerca de 10% dos estudantes desfavorecidos em Portugal conseguiram atingir os melhores níveis de desempenho de Leitura. Em média, nos países da OCDE, 11% dos estudantes desfavorecidos atingiram os melhores níveis de desempenho em Leitura.

Em Portugal, os alunos de baixo desempenho estão agrupados em certas escolas na mesma medida que a média da OCDE. Já os alunos de alto desempenho estão menos frequentemente agrupados. De acordo com o estudo, um aluno desfavorecido tem 22% de hipóteses, em média, de estar matriculado numa escola com aqueles que atingem os melhores níveis no domínio da Leitura. A média da OCDE no mesmo parâmetro é de 17%.
Os diretores das escolas em Portugal relataram mais escassez de pessoal e mais escassez de material do que a média da OCDE. No entanto, não houve diferença significativa na escassez de pessoal entre escolas favorecidas e desfavorecidas.

Em Portugal, 18% dos estudantes matriculados numa escola desfavorecida e 29% dos alunos matriculados numa escola privilegiada frequentam um estabelecimento com falta de pessoal docente, reportada pelos diretores. Em média, nos países da OCDE, 34% dos estudantes em escolas desfavorecidas e 18% dos estudantes em escolas favorecidas frequentam escolas com o mesmo padrão.

As ambições de grande parte dos estudantes, em particular dos mais desfavorecidos, são mais baixas do que o esperado. Em Portugal, um em cada quatro estudantes desfavorecidos com elevados níveis de desempenho - e cerca de um em cada 30 estudantes favorecidos com elevado desempenho - não espera concluir o ensino superior.
As regras do PISA exigem que pelo menos 80% dos estudantes escolhidos nas escolas participem no estudo. Este limite de 80% foi atingido em todos os países, exceto em Portugal, onde apenas 76% dos estudantes realmente participaram no estudo.
Para João Costa a percentagem de "não participação" não altera os resultados, mas o governante admite que é preciso corrigir estes problemas. "Tem que haver mais proximidade com as escolas para estimular a participação dos alunos que são selecionados para amostra. Há aquilo a que se chama a fadiga da resposta. São muitos questionários e as pessoas por vezes não respondem a todos, mas dada a importância destes estudos tem que haver maior acompanhamento."

João Costa sobre a não participação portuguesa neste estudo

Os investigadores avisam que isto pode levar a resultados enviesados caso os alunos que não responderam sejam os que são mais propensos a ter desempenhos mais baixos. Ainda assim, justificam que a percentagem de não participação de Portugal é suficientemente pequena para preservar os resultados.