Sofia Branco, in Jornal Público
Uma das novidades da cimeira UE-África foi a abertura à sociedade civil, que pôde apresentar aos chefes de Estado e de Governo a sua declaração política, assente em "três princípios fundamentais: co-responsabilidade, solidariedade e confiança mútua", resumiu ao PÚBLICO Fátima Proença, da plataforma portuguesa de organizações não-governamentais.
A anunciada nova parceria euro-africana deve fazer-se respeitando "o tempo" de cada continente, reconhecendo que existe "um grande desequilíbrio de poder à partida" e apostando na "coerência", realçou Fátima Proença, adiantando que a sociedade civil vê nos Acordos de Parceria Económica (APE) que a UE quer assinar com os países africanos um "exemplo de incoerência".
Em representação da sociedade civil africana, Taoufik Ben Abdallah foi mais longe, afirmando que a mudança de discurso da Europa em relação a África "não é genuína, é uma treta". "Não é a visão da Europa que está a mudar, é a realidade que está a mudar", vincou. E a "realidade" é que a influência chinesa cresce em África, o que leva a Europa a "querer convencer os africanos a ficarem a seu lado". "Nós não somos casados", ironizou o presidente da organização senegalesa ENDA. O outro objectivo da Europa, acrescentou, prende-se com "impor uma agenda no comércio", através dos APE.
Destacando como "positiva" a abertura da cimeira à sociedade civil, Fátima Proença reconheceu que "a receptividade [dos políticos a algumas das ideias apresentadas] só vai ser vista a longo prazo".