Vítor Costa, in Jornal Público
Indicador do Banco de Portugal regista maior queda desde 2003 entre Novembro e Dezembro do ano passado. Consumo privado e exportações diminuem, apenas investimento sobe
Os efeitos da turbulência internacional e da restrição de crédito já se começam a fazer sentir na economia portuguesa. O Banco de Portugal e o Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgaram ontem, respectivamente, os indicadores de conjuntura e de clima económico relativos a Dezembro de 2007 e os dados apresentados apontam para que a economia nacional tenha terminado o ano em forte desaceleração.
O Indicador Coincidente da Actividade Económica do Banco de Portugal - que reflecte o andamento da economia - acentuou a desaceleração que já registava desde Outubro do ano passado e entre Novembro e Dezembro a queda atingiu os 0,3 pontos fixando-se agora em 1,9. É preciso recuar a Abril do ano passado para encontrar um valor tão baixo quanto este e é preciso ir até Janeiro de 2003 - ano em que a economia portuguesa esteve em recessão - para detectar uma queda tão acentuada como a verificada.
A desaceleração que se registou no último trimestre do ano passado não será, ainda assim, suficiente para prejudicar o crescimento económico de 1,8 por cento previsto pelo Governo - o Banco de Portugal prevê inclusivamente que no ano passado a economia tenha crescido 1,9 por cento. Em perigo fica, no entanto, o crescimento para o corrente ano. A previsão do Governo aponta para um valor de 2,2 por cento, mas a instituição liderada por Vítor Constâncio indica apenas 2 por cento. Assim, a concretizarem-se estas últimas previsões, a aceleração do crescimento económico seria praticamente inexistente.
As restrições ao crédito que se estão a verificar um pouco por todo o mundo também já se fazem sentir em Portugal (ver texto na página ao lado) e serão um dos motivos para explicar a desaceleração da economia portuguesa. Mas a crescente subida das taxas de juro e a incapacidade para fazer diminuir o desemprego também contribuem para esta situação, minando a confiança dos consumidores e arrasando o andamento do consumo privado. Os dados ontem apresentados pelo Banco de Portugal dão conta, por exemplo, que o Indicador Coincidente do Consumo Privado está em queda desde Junho e nos três últimos meses de 2007 caiu sempre 0,3 pontos, fixando-se em Dezembro (0,4 pontos) no valor mais baixo desde Setembro de 2003.
Mas não é só o consumo privado que contribui para a desaceleração da economia. Com o abrandamento das principais economias clientes dos produtos portugueses, também as exportações registam taxas de crescimento menores. Segundo dados do INE, quer o indicador de procura externa, como a carteira de encomendas, quer as exportações de mercadorias têm vindo a desacelerar. Com as exportações a cair e as importações a aumentar, o contributo da procura externa líquida já contribui negativamente para o crescimento do PIB.
A única variável que se mantém com indicações positivas é o investimento. Os dados do INE mostram que o indicador de investimento (Formação Bruta de Capital Fixo) continua a registar taxas de variação crescentes.