Carla Guerra, Berlim, in Diário de Notícias
Cerca de 2,6 milhões de crianças alemãs - uma em cada seis - vivem na pobreza. É a conclusão a que chegou a Sociedade Alemã para a Protecção de Crianças. O número representa cerca de 14% das crianças com menos de sete anos de idade que, segundo a mesma instituição, precisam da ajuda estatal para viver. O mesmo relatório diz que a proporção de crianças que vivem abaixo do limiar do bem-estar é hoje 16 vezes superior a 1965.
Os números são o dobro se comparados com o ano de 2005, época em que esteve à frente do Governo o Partido Social-Democrata (SPD) de Gerard Schroeder que na altura introduziu cortes no sistema social. De acordo com o cientista político de Colónia, Christoph Butterweg- ge, o aumento da pobreza é também resultado desses cortes.
Introduzidos no ano passado pela ministra da Família, Ursula von der Leyen, os benefícios para os pais, que significaram cortes orçamentais que antes iam para famílias pobres, também influenciaram esta situação. Se antes os mais desfavorecidos recebiam 300 euros mensais durante dois anos, no momento a maioria dessas verbas são destinadas a famílias não necessitadas, uma vez que o incentivo à natalidade é a grande prioridade na Alemanha.
O sistema de Educação é outra das razões apontadas, uma vez que desde cedo fica determinado se uma criança terá ou não a hipótese de estudar numa universidade. Há também quem justifique a pobreza com a mentalidade alemã, em que o individualismo é muito comum, não sendo o mais favorável às crianças e jovens. Muitos pais esperam que os filhos sejam independentes financeira- mente e vivam sozinhos a partir dos 18 anos de idade. Por último, a sociedade em si, em que os empregos exigem cada vez mais horas de trabalho e deixam cada vez menos tempo livre para os filhos e para a família. A associação Die Tafel, que distribui sopa quente e outros alimentos por toda a Alemanha, diz que das 800 mil pessoas que recebem ajuda, 200 mil são crianças, e revela que o número tem aumentado nos últimos dois anos. Segundo a UNICEF, desde 1990, ano da reunificação alemã, a pobreza das crianças aumentou em comparação com outros países industrializados.