Margarida Gomes, in Jornal Público
Projecto discutido em reunião realizada ontem no governo civil. Protocolo de colaboração será estabelecido com a Escola de Ciminologia da Universidade do Porto
Numa altura em os sangrentos acontecimentos ligados aos negócios da segurança nocturna ganham destaques de primeira página, há quem olhe com preocupação para a delinquência juvenil no espaço da Área Metropolitana do Porto (AMP) e tente encontrar uma forma de combater fenómenos de exclusão social. O primeiro passo nesse sentido foi dado ontem e, ao que o PÚBLICO apurou, foi decidido constituir-se um Observatório da Delinquência Juvenil.
As linhas gerais deste projecto foram discutidas numa reunião entre o fundador do Centro de Ciência do Comportamento Desviante e da Escola de Criminologia da Universidade do Porto, Cândido Agra, e a governadora civil do Porto, Isabel Oneto.
"Precisamos de perceber a verdadeira dimensão do fenómeno da delinquência juvenil no espaço metropolitano e, ao mesmo tempo, estudá-lo e pareceu-nos que a melhor forma de o fazer era constituir um observatório para que se debruce sobre este tipo de marginalidade", declarou ao PÚBLICO uma fonte que participou no encontro.
Tratou-se de uma primeira reunião onde se discutiu a metodologia a seguir, concretamente quantas pessoas vão ser necessárias envolver no projecto, qual o enfoque a dar ao trabalho, que tipo de inquéritos é que vão ser feitos, entre outras questões. O objectivo é claro: estudar a desestruturação dos jovens, que, normalmente, os empurra para a delinquência, um tipo de marginalidade que tem uma organização própria (o chamado gangue), que age num território de acção privilegiado (as grandes áreas metropolitanas) e que usa armas brancas e até de fogo.
Embora a situação em relação à criminalidade juvenil seja bem mais preocupante na Área Metropolitana de Lisboa do que no Porto, o Governo Civil entende que é importante olhar para o futuro, evitando, assim, que num universo de dez anos não se esteja perante um boom difícil de suster. Com rigor, não existem, a nível da AMP, indicadores sobre este tipo de criminalidade, daqui que o objectivo do observatório seja o de tentar medir e tomar o pulso a esta realidade social, tendo em conta que cada vez mais existem bolsas de exclusão social e, consequentemente, mais delinquência juvenil.
O criminalista Cândido Agra, docente na Faculdade de Direito da Universidade do Porto, ficou de apresentar, a curto prazo, uma proposta de trabalho concreta, que contemple a equipa de trabalho, os custos que um projecto desta natureza envolve, bem como os meios que vão ser necessários para pôr de pé a ideia. O Governo Civil do Porto, por seu lado, deverá facultar a informação de que dispõe relativamente à violência e criminalidade no distrito.
Na próxima semana deverá realizar-se uma nova reunião entre as ambas as partes e é provável que as duas entidades definam já os termos do protocolo de colaboração que será estabelecido entre o Governo Civil do Porto e a Escola de Criminologia da Universidade do Porto com vista à criação do observatório.