David Dinis, in Jornal de Notícias
Desemprego está no topo das preocupações dos portugueses, segundo o eurobarómetro ontem divulgado
Últimos no que diz respeito ao emprego, penúltimos face à percepção da situação económica e da situação social do país, entre os últimos, por fim, no que respeita à satisfação com a forma como a democracia funciona e à forma como, em geral, a vida corre a cada um. O cenário que os portugueses traçam do seu país está entre os piores de sempre, segundo revela o último Eurobarómetro dedicado a Portugal, que ontem foi divulgado.
Se os dados são negativos, se comparados com a média europeia, eles também não melhoram quando comprados com os resultados de há um ano. Assim, Portugal sobe um ponto na descrença face à situação económica, somando 89% entre os que consideram que a situação do país é má; aumenta também na avaliação do mercado de trabalho, chegando aos 94% de insatisfeitos; perde 10% de optimistas face ao bem-estar social (apenas 14%) e ainda perdeu cidadãos satisfeitos com a vida. Neste campo, porém, há um ponto não totalmente negativo é que ainda há 55% de portugueses felizes, em termos gerais, com a sua própria vida. Seria um bom motivo de optimismo, não fosse este o quarto pior resultado a nível europeu.
Perfil do pessimista
Mas há mais. Do relatório (que é feito todos os anos, separadamente, para cada um dos 27 países da União Europeia), sobressai também um enorme pessimismo face aos anos que aí vêem. Os dados mostram, por exemplo, que estamos entre os que menos acreditam na melhoria da situação económica (só 16%) e também os menos optimistas no que respeita à evolução da situação financeira do agregado familiar (só 15%) .
O eurobarómetro procurou, também, perspectivar quais são os problemas prioritários para os cidadãos portugueses nesta altura. Ao caso, e para mais de metade dos cidadãos, é o desemprego - com enorme preponderância entre "os jovens e aqueles que vivem nas grandes cidades", aponta o eurobarómetro. Segue-se a inflação e a situação económica - tudo matérias relacionadas com a disponibilidade financeira das famílias. Só depois delas (e ainda antes de outra matéria deste tipo - os impostos) entram os problemas do sistema de saúde - matéria que, nos últimos meses, tem dominado a agenda mediática e também das reformas do Governo de José Sócrates.
Na pesquisa, a equipa de investigadores garante ter chegado a um perfil do português mais pessimista "Confirmamos de forma sistemática que são os grupos sociais com menos recursos, sejam estes educacionais, etários, de rendimento (desempregados, empregados manuais, reformados) ou aqueles que habitam no interior (aldeias rurais), que se revelam mais pessimistas sobre a situação nacional e individual", apontam as conclusões.
De resto, retira-se ainda do estudo uma melhoria dos registos de confiança face às instituições da União Europeia - maior até do que existe relativamente ao Governo e à Assembleia da República.