in Jornal de Notícias
O clamor dos pobres faz-se ouvir ainda mais no tempo da Quaresma à espera da libertação
A Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP), na Quaresma deste ano, convida "todos os cristãos e as suas comunidades a escutar o clamor dos pobres e a abrir caminhos de justiça para erradicar a pobreza no nosso país".
O empobrecimento de muitos portugueses, cerca de 18%, como referem as estatísticas de 2006, também merece uma chamada de atenção da Cáritas Portuguesa, a nível nacional e diocesano.
A CNJP defende que Portugal já atingiu níveis de rendimento que permitiriam superar o flagelo social da pobreza, se fosse outra "a repartição do rendimento e o modelo económico e se as opções políticas estivessem voltadas para a satisfação das necessidades das pessoas, das famílias e das comunidades".
A pobreza é "uma situação intolerável à luz de critérios éticos e dos direitos humanos fundamentais e pode constituir um risco e uma ameaça, para a democracia, a sustentabilidade do crescimento económico e para a paz social".
A reflexão da CNJP dá continuidade, como aqui informámos, à petição apresentada à Assembleia da República em Outubro passado, também por iniciativa da CNJP, na qual se solicitava que a pobreza seja reconhecida como violação dos direitos humanos.
A pobreza é uma realidade complexa e multifacetada, que, nas sociedades contemporâneas, se apresenta com vários rostos e múltiplas causas, exigindo, por isso, respostas diversificadas. Os pobres têm em comum uma dignidade humana ofendida, a humilhação da sua exclusão social, a insegurança face ao dia de amanhã, a perda de autonomia na sua realização pessoal e, não raro, o justo sentimento de serem vítimas da injustiça social. Acresce, em muitos casos, a angústia psicológica de se sentirem primeiro inúteis e depois descartáveis pela sociedade, pelos amigos e vizinhos, quando não pela própria família.
Para vencer a pobreza, a CNJP lembra os seguintes princípios "o primado absoluto da defesa da pessoa humana, de cada pessoa e dos seus direitos e deveres fundamentais; o destino universal dos bens da terra; e o primado da pessoa sobre o trabalho e deste sobre o capital".