Helena Simão, in Jornal de Notícias
Crianças vão enriquecendo os seus conhecimentos através da música
"Vamos cantar as janeiras
". Em tom alegre, acompanhada de palmas, a música vai sendo entoada pelas várias salas do conservatório de artes Orfeão de Leiria. O início do ano já lá vai, mas para muitos alunos da turma Zero/Cinco é o desabrochar de uma vida ligada à música. Habitualmente são os músicos profissionais que se deslocam à sala do projecto para que os pequenos aprendizes contactem com uma panóplia de experiências musicais. Com uma década de existência, o programa renovou-se para o ano lectivo em curso, com uma perspectiva mais pragmática e social, orientada também para os mais carenciados.
São pequenos e traquinas, mas junto de familiares - que todas as semanas os acompanham - mais do que música, vão aprendendo uma forma de estar na vida. Sandrine Milhano, coordenadora do projecto, resume que estas aulas têm como missão "o desenvolvimento de capacidades relacionais, cognitivas, emocionais e sociais, através da construção dos alicerces de vocabulário musical". Na ampla sala, são estimulados com tubos sonoros, ovos musicais, jogos de sinos, xilofones, bolas, fitas, arcos e um piano. Cantam, ouvem, criam, tocam e escutam instrumentos e realizam jogos musicais em grupo.
Paula Capitão, mãe do pequeno Guilherme, não esconde a satisfação de integrar o projecto. Não é aluna, mas vive cada momento como se o fosse. "Quis dar ao meu filho a oportunidade de descobrir se tem alguma apetência musical. Se tiver, pode desenvolvê-la. Se não tiver, aprende de uma forma divertida", explica, contando ter inscrito o menino, quando este tinha pouco mais de um ano. Para Sandrine Milhano, "a música é catalizadora do desenvolvimento cerebral, emocional, social e artístico". O seu impacto na vida de um indivíduo abrange todas as áreas, desde o "desempenho escolar, à integração e inclusão social, passando pelo desenvolvimento da criatividade". Foi, por isso, que a responsável teve a ideia de integrar crianças com mais dificuldades financeiras. "O Orfeão também é um projecto social e pensei em contactar empresas, no sentido de que pudessem contribuir", explica.
O pedido deu frutos as empresas Leiritrónica e Caiado decidiram pagar a inscrição de duas crianças, identificadas pela associação de solidariedade Vida Plena, até ao ano lectivo 2009/2010. A socialização é um pilar deste projecto, assim como o reforço da afectividade entre pais e filhos, uma relação que se fortalece durante as aulas. "É difícil de explicar, é quase como uma terapia. As expressões, as descobertas e a aprendizagem traduzem-se em momentos fantásticos", resume.