in Jornal de Notícias
Resposta a casos de catástrofe é tida como boa, mas o seu seguimento necessita de maior atenção
Especialistas em stress pós-traumático defendem que Portugal deveria ter uma rede nacional de apoio psicossocial continuado em situação de pós-catástrofe, já que a atenção é boa na emergência, mas depois as vítimas acabam esquecidas.
"O problema de Portugal e de muitos outros países é que não está bem construída a continuidade dos cuidados psicossociais. Há uma atenção muito boa na emergência, mas depois vai-se esquecendo as vítimas", alertou o psiquiatra Francisco Orengo Garcia, coordenador da rede europeia para o stress traumático (TENTS, na sigla em inglês).
O especialista, presidente da Sociedade Espanhola de Psicotraumatologia e Stress Traumático, falava aos jornalistas em Coimbra, durante uma reunião científica sobre "Apoio Psicossocial em Situação de Pós-Catástrofe", inserida no projecto TENTS.
Para o professor da Universidade Complutense de Madrid, "é muito importante a continuidade dos cuidados" e "há que trabalhar a relação entre as instituições, com uma entidade nacional que coordene, de uma forma integrada, todas as associações".
"Em Portugal não há uma rede nacional de apoio psicossocial", afirmou, por seu turno, o coordenador do Observatório do Risco do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (OSIRIS), José Manuel Mendes.
Para o sociólogo, "Portugal está bem preparado a nível do socorro, mas falta o apoio continuado na vertente psicossocial".
"Devia haver um plano nacional de apoio psicossocial e uma entidade nacional que coordenasse todas as valências e potencial existente", defendeu, em declarações aos jornalistas, adiantando que esta recomendação vai ser apresentada às diversas estruturas que participaram na reunião, inserida no projecto TENTS.
O TENTS visa o levantamento das estratégias de actuação actuais e o desenvolvimento de linhas orientadoras de intervenção na pós-catástrofe, passíveis de serem adoptadas nas diferentes realidades europeias.
As iniciativas foram organizadas pelo Observatório do Risco em parceria com o Hospital Militar de Coimbra. O programa culminou com o lançamento do livro "Psiquiatria da Catástrofe", coordenado pela psiquiatra Luísa Sales, do Serviço de Psiquiatria do Hospital Militar de Coimbra.