Diana Mendes, in Diário de Notícias
Crise. Idosos e carenciados pedem mais ajuda desde 2008
Entre 80 a cem deslocações diárias dos bombeiros têm por base serviços de apoio social, nomeadamente o apoio a idosos e a pessoas carenciadas. Duarte Caldeira, presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, disse ao DN que este tipo de serviço não é pago pelo Ministério da Saúde e está a crescer. "Entre 8% a 10% das nossas saídas já são de apoio social", diz.
Se diariamente a Liga faz cerca de mil deslocações pelo País, estima-se que cem por dia sejam para este fim, ou seja, que 36 500 sejam efectuadas por ano. "É um dos serviços que os bombeiros fazem e que o INEM não paga porque não considera serviços de emergência", diz Duarte Caldeira. Este é um dos problemas analisados num relatório final sobre os serviços de transporte não emergente de doentes, entregue no dia 31 de Dezembro à tutela.
Duarte Caldeira explica que este tipo de solicitações tem vindo a aumentar desde o primeiro trimestre de 2008 e mostra sinais de se intensificar. "É um serviço que fazemos e que é relativamente novo, porque surge em grande parte dos casos devido ao à crise". Todos os dias há casos registados pelas 434 associações de bombeiros do País.
O percurso até aos bombeiros é o habitual: Um cidadão chama uma corporação local e alega determinada sintomatologia que acaba por revelar não ser uma emergência médica. "O INEM considera que não é uma emergência, mas o certo é que muitas vezes conseguimos, indo lá, contribuir para evitar, a tempo, verdadeiras situações de emergência, sobretudo em zonas urbanas".
Esta situação, descrita no relatório elaborado pela liga, pela Direcção-geral da Saúde e pela Administração Central dos Sistemas de Saúde, preocupa Duarte Caldeira. "Cada vez somos menos ressarcidos por estes serviços", afirma. É por isso que a associação vai apelar à intervenção do Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social.
"Este serviço começa a estar fora da esfera do Ministério da Saúde. Vamos propor ao Ministério do Trabalho e da Solidariedade que nos apoie. Isto são serviços de apoio social, são pessoas com necessidade de socorro, que se sentem sós, doentes, que estão carenciadas e os bombeiros não podem recusar-se a fazer este tipo de serviços e muito menos cobrar às pessoas por isso", frisa Duarte Caldeira.
Os casos diários são apenas uma estimativa, mas a Liga tenciona recolhê-los e apresentá-los à tutela para "pedir o apoio possível". No relatório entregue na semana passada ao Ministério da Saúde e que será discutido na próxima semana, existem outras questões prementes e para as quais a liga apresenta soluções.
Uma delas é o pagamento por quilómetro por cada deslocação. A base é de 47 cêntimos, um valor que foi determinado em Julho mas que os bombeiros aceitaram porque estavam previstas novas negociações em Janeiro. "Este valor correspondeu ao nosso esforço e à subida dos combustíveis, mas continuamos a achar que devemos receber 60 cêntimos", uma proposta que integra o relatório. A meta pretende responder à necessidade de "melhorar os serviços, dar formação e organizar os serviços", conclui Duarte Caldeira.