5.1.09

Na "maior prisão do mundo", quatro quintos da população depende da ajuda humanitária para comer

M.J.G., in Jornal Público

O território continua sob controlo israelita nas saídas por terra, ar e mar. O cerco, avisou em Julho o Banco Mundial, vai provocar um colapso económico "irreversível"

A Faixa de Gaza é considerada pela ONU o território mais densamente povoado do mundo. Tem mais de 1,5 milhões de habitantes numa rectângulo de cerca de 45 quilómetros por oito. Em Israel, diz-se "vai para Gaza" e isso quer dizer "vai para o Inferno".

Muitos dos seus habitantes chamam-lhe "a maior prisão do mundo".

O território tem quase 480 mil refugiados registados. A maioria fugiu para Gaza, depois da guerra de 1948, de cidades a sul de Jaffa, como Ashkelon, e de áreas do Negev - o jornalista Robert Fisk notava, num recente artigo de opinião no Independent, "a ironia" de as mesmas cidades que estão a ser alvo de rockets do Hamas terem sido antes a casa de grande parte dos refugiados palestinianos que vivem agora nos campos de Gaza.

A Faixa de Gaza não tem fronteira definida com o território israelita ao lado: tem uma vedação e alguns postos de passagem, um no Norte para VIP, outros dois mais para sul para carga e ajuda humanitária.

O posto fronteiriço com o Egipto, em Rafah, foi controlado por Israel até 2005, quando passou a ser monitorizado por uma missão da UE, mas foi entretanto completamente encerrado pelas autoridades egípcias depois da tomada do poder pelo Hamas, no Verão de 2007.

Durante muitos anos, Israel empregava alguns trabalhadores palestinianos, ou em zonas do Sul, perto, ou nos próprios colonatos dentro da Faixa de Gaza, de onde Israel retirou em 2005. Era o plano de retirada unilateral de Ariel Sharon, que caiu em coma fez ontem três anos vítima de um AVC sem nunca ver a deterioração da situação na Gaza entretanto desocupada, mas ainda sob controlo israelita nas saídas por terra, ar e mar.

Um relatório recente de várias organizações não governamentais (ONG) dava conta da cada vez mais rápida degradação das condições de vida na Faixa de Gaza.
Em Março de 2008, várias ONG incluindo a Aministia Internacional, Save the Children, Oxfam, Care International ou Chirstian Aid, acusavam o Estado hebraico de estar a desrespeitar a lei humanitária internacional com a política de cerco ao território.
Notavam, por exemplo, que ainda em 2000 havia cerca de 24 mil palestinianos que passavam para Israel, todos os dias, para trabalhar. Hoje, ninguém é autorizado a passar.

Ninguém tem emprego

A percentagem de famílias dependentes de ajuda alimentar estava nos 80 por cento, bastante acima do número de 2006, 63 por cento.

E no espaço de menos de um ano, entre Junho e Setembro de 2007, o número de lares de Gaza com rendimentos inferiores a 1,2 dólares por dia aumentou de 55 por cento para 70 por cento.

Quase ninguém tem emprego na Faixa de Gaza: 95 por cento das operações industriais estão suspensas. Em 2005 havia 3900 fábricas a operar com 35 mil empregados. Com o bloqueio israelita não há entrada de matérias-primas, nem possibilidade de exportar os produtos finais.

Em Junho, o Banco Mundial avisava: a continuação do cerco iria provocar um colapso económico "irreversível".

Com uma situação prévia já tão empobrecida, as ONG têm avisado para a catástrofe iminente que ataques duros contra um território já tão castigado pelo bloqueio podem ter.

Israel tem negado que a Faixa de Gaza esteja à beira de uma enorme crise humanitária.