Lucília Tiago, in Jornal de Notícias
Só em meados de 2010 a economia da Zona Euro deverá começar a recuperar. É esta a previsão da OCDE, num relatório económico esta quarta-feira divulgado. O secretário-geral da organização alerta que "o pior ainda está para vir".
Angel Gurria deixou ontem o alerta na conferência de Imprensa em que apresentou o relatório económico para a Zona Euro da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE): "O pior" para a economia dos países do euro está ainda para vir. Espera-se, alertou "uma desaceleração mais forte do crescimento", sublinhando também que os efeitos da crise do mercado imobiliário não se fizeram ainda sentir na totalidade. Este sector "continua a retrair-se".
Ao mesmo tempo, assinalou o secretário-geral da organização sediada em Paris, a deterioração dos défices orçamentais dos países da Zona Euro será mais relevante nos próximos meses do que o são actualmente. No documento, a OCDE assinala que a economia da Zona Euro já fechou no "vermelho" em 2008 - ainda que para o conjunto do ano deva ter crescido 1,0% - esperando-se uma contracção de 0,6% em 2009. Só a partir de meados de 2010, a Organização estima que possa começar a crescer na ordem de 1,2%. Todavia, sublinha, existem "sérios riscos" nesta previsão de crescimento. Recorde-se, no entanto, que ainda esta semana o presidente do BCE veio manifestar a sua convicção na retoma a partir do próximo ano.
E é precisamente porque a "anemia" da actividade económica representa actualmente o principal problema para a Zona Euro que a OCDE defende que o BCE deve continuar a descer as suas taxas directoras. Em vésperas de mais uma reunião do BCE - e em que se espera novo corte das taxas de juro - este relatório vem defender que a instituição liderada por Jean-Claude Trichet tem margem de manobra para descer os juro, até porque a OCDE afasta um cenário de deflação. Contudo, e devido à "incomum dose de incerteza" subjacente a este relatório, é referida a necessidade de a política monetária estar pronta a responder se as expectativas sobre a evolução dos preços não se realizarem.
A OCDE reconhece ainda a necessidade e importância das medidas anti-crise que estão a ser tomadas pelos governos, mas lembra que estas não devem comprometer o objectivo de longo prazo de finanças públicas equilibradas.
Neste relatório, a Organização defende que, no futuro, e uma vez ultrapassadas as actuais dificuldades que enfrenta o mercado da habitação, se deveriam equacionar alterações na tributação do património.