António Marujo, in Jornal Público
Dádivas também vão reverter para fundos de emergência e apoio ao desemprego. O apelo
é feito por vários bispos, que até já recorrem à Internet para passar a mensagem
A Os bispos portugueses querem a mobilização dos católicos em favor de causas sociais e dos mais desfavorecidos. Nesta Quaresma, o tempo litúrgico de preparação para a Páscoa, os católicos são convidados a entregar o produto das suas renúncias para apoiar a criação de emprego, fundos sociais de emergência e crianças desfavorecidas. O bispo do Porto, D. Manuel Clemente, chega a falar de uma "Quaresma empresarial" na promoção do emprego.
Durante as próximas seis semanas (hoje é o primeiro domingo da Quaresma, iniciada quarta-feira passada), até 12 de Abril, data em que a Páscoa ocorre este ano, os católicos são convidados a renunciar ao que seja supérfluo, numa nova forma de fazer jejum. Chama-se renúncia quaresmal. Comida, entretenimento, vícios ou pequenos luxos são exemplos do que as pessoas podem deixar de gastar... O dinheiro que com isso seja poupado é depois destinado a diversos fins, muitas vezes de carácter social.
É o que acontece este ano, com a crise económica em pano de fundo. E que levou grande parte dos bispos a decidir que o produto da renúncia quaresmal seja destinado a fundos de emergência ou a apoio a desempregados, por exemplo.
O bispo do Porto volta a ter, tal como fez no Natal, uma mensagem no YouTube (http://www.youtube.com/watch?v=6iCAl7RgRgI&feature=channel_page). Nela se refere às formas tradicionais de vivência da Quaresma, dizendo que o jejum deve traduzir a privação de alguns bens, "mesmo legítimos", e a procura de "uma vida mais austera, uma vida de menos gastos, uma atitude mais frugal, mais disponível para a solidariedade". E acrescenta que a esmola pode ser, no actual contexto português e internacional, "fazer tudo o possível para que mais gente veja o seu trabalho garantido".
No texto que escreveu em paralelo, o bispo Clemente afirma que a Quaresma implica, hoje, fazer com que o trabalho não falte a ninguém: "No actual contexto social e económico, a conversão a Deus, que é a substância da Quaresma, tem de sublinhar a humanidade de todos e a sua necessária realização em cada um. Quer isto dizer que a Quaresma de 2009 em Portugal exige a correcta compreensão do significado do trabalho e o maior esforço para que ele não falte a ninguém. Tanto quanto possível, isto é, sem desistir nunca."
O fundo de emergência social da diocese do Porto será o destino da renúncia quaresmal dos católicos daquela diocese. Tal como acontece no Funchal e em Angra. Em Setúbal, o bispo Gilberto Reis decidiu criar um fundo semelhante para apoiar desempregados e endividados, situações que os católicos da Guarda e de Viana do Castelo também irão apoiar. E em Braga será criada uma casa para recolher bens que possam ser doados aos mais pobres.
Já a diocese de Lisboa irá apoiar as crianças da Casa do Gaiato, enquanto em Coimbra as beneficiárias serão as crianças de outra instituição de apoio aos mais desfavorecidos. O ordinariato castrense, diocese militar, apoiará o trabalho das Missionárias da Caridade também com crianças pobres.
Algumas dioceses destinarão o dinheiro da renúncia quaresmal aos mais necessitados, mas fora do país: Aveiro auxiliará a diocese de Benguela. Portalegre e Castelo Branco ajuda um projecto de desenvolvimento agrícola em São Tomé. Parte do apoio da Guarda será destinado a um projecto missionário no Sumbe (Angola) e o Funchal fará chegar igualmente uma parte da renúncia quaresmal a um projecto em Lichinga (Moçambique). Bragança-Miranda apoiará Bafatá (Guiné-Bissau).
Beja escolheu os cristãos que vivem em sociedades islâmicas e sofrem perseguições. Já as ajudas de Évora, Viseu e parte das de Viana e de Bragança serão para os seminários diocesanos, uma opção que significa que a verba recolhida fica em casa e não recolhe consenso entre católicos.