Teresa de Sousa, in Jornal Público
Maria João Rodrigues, académica, consultora de várias instituições internacionais, entre as quais a Comissão, considera que esta crise é um teste dramático à União. Segue-se um pequeno extracto de uma longa entrevista que será publicada no próximo suplemento de Economia.
A Europa parece incapaz de se entender sobre como reagir de forma eficaz a esta crise. O que está a falhar?
A questão é muito clara: se queremos travar a derrapagem para o proteccionismo nacional, que seria uma catástrofe porque destruiria o mercado interno e a união monetária, só temos uma saída, que é uma resposta a nível europeu para proteger os interesses das empresas e dos cidadãos europeus.
Vê algum sinal de que isso se vai fazer?
Esta cimeira tem, um pouco, esse objectivo.
É o grande teste que se segue: se ficamos ao nível dos discursos piedosos em favor da solidariedade europeia ou se há capacidade de adoptar novos instrumentos.
Que instrumentos?
Há medidas concretas que serão, elas próprias, um teste. A primeira é decidir que se vai expandir a despesa pública para estimular o crescimento da economia, garantindo que há mais margem de utilização dos critérios de Maastricht. De forma clara e colectiva. Um segundo problema resulta de os países-membros estarem em condições muito diferentes para lançar os seus programas de estímulo à economia: uns têm muito mais meios do que outros. E o que está a acontecer é que alguns países, ao aumentarem o défice e a dívida, estão a fazê-lo com taxas de juro elevadíssimas porque são considerados economias mais frágeis. É esse o verdadeiro teste à solidariedade europeia. A única forma de responder a este problema é lançar um instrumento que ainda não existe e que são os eurobonds [títulos de dívida europeus].
Mas ainda há grandes resistências, nomeadamente na Alemanha.
Porque a Alemanha considera que não tem que estar a pagar pela dívida dos outros. Vai ter de perceber que, se não optar pela solidariedade, vai ficar rodeada por regiões em depressão que vão puxar a economia alemã ainda mais para baixo.
Finalmente, o outro grande teste é o que se passa em matéria de ajudas de Estado e onde se vê novamente a diferença de condições em que os países se encontram. Há governos que têm meios financeiros para socorrer as suas empresas com ajudas de Estado vigorosas, mas outros não podem. É preciso estabelecer uma regra mínima segundo a qual se um governo apoia empresas localizadas no seu país, vai ter de apoiar as suas filiais onde quer que elas se encontrem.
Isso leva-nos à questão da Europa de Leste. Parece que só lhe resta bater à porta do FMI.
É bastante degradante do ponto de vista político que países da UE tenham de recorrer ao FMI. Há actualmente um instrumento comunitário para países com crises de balança de pagamentos, só que é irrisório face ao que está em causa. Além disso, devia equacionar-se a possibilidade de utilizar eurobonds também para ajudar esses países.
É mais uma razão para precisarmos desse instrumento. A UE deveria também afirmar imediatamente um quadro credível para a sua futura entrada no euro. Isso acabaria com os ataques especulativos às suas moedas.