Sérgio Aníbal, in Jornal Público
As maiores economias da União Europeia vão discutir hoje o que podem fazer para ajudar o Leste Europeu, em plena instabilidade financeira
Numa Europa onde ninguém escapa à crise, os países do Leste, que inicialmente pareciam mais longe da instabilidade financeira, passaram agora a estar no centro das preocupações.
Motivos não faltam. Com défices externos muito elevados e com divisas demasiado frágeis para o instável mercado cambial internacional, economias como a da Polónia, Hungria, República Checa, Roménia ou dos países bálticos estão já a entrar em recessões profundas como os seus parceiros da Zona Euro, com a agravante de as suas divisas as poderem colocar numa situação de colapso semelhante à vivida pela Islândia no final do ano passado.
O maior problema está no efeito bola de neve criado pela queda das moedas. O défice externo elevado e os sinais de stress no sistema bancário estão a provocar a saída de capitais dos países. Isto provoca, de imediato, uma depreciação da divisa. Uma moeda mais fraca, por sua vez, ainda piora mais a situação dos bancos, já que muitas das pessoas que pediram empréstimos fizeram-no em euros e ficam com muita dificuldade em fazer face às suas prestações. Os maiores problemas dos bancos fazem com que a moeda sofra ainda mais, reiniciando este ciclo negativo.
Este processo que se auto-alimenta e que levou a Islândia à falência já está em andamento na Europa de Leste. Na Polónia, o zloty já caiu 28 por cento, durante os últimos seis meses. Na República Checa, Roménia e Hungria a queda é de 12, 17 e 20 por cento, respectivamente. Para evitar o incumprimento nos pagamentos da dívida, a Hungria e a Letónia já tiveram de contar com a ajuda do Fundo Monetário Internacional.
Por isso, na cimeira de hoje, no centro do debate vai estar o que é que as maiores economias europeias podem fazer para ajudar as economias do Leste europeu. O primeiro- -ministro garante que é necessário que a UE crie um pacote de ajuda de 180 mil milhões de euros para ajudar os países do alargamento, ou seja, um valor muito superior aos 24,5 mil milhões que o Banco Mundial, o Banco Europeu de Investimento e o Banco Europeu para a Reconstrução e Desenvolvimento reuniram para ajudar o Leste, incluindo também países como a Ucrânia e a Croácia, que estão fora da UE.
Dentro da Zona Euro, até agora, devido às preocupações internas que todos têm, a vontade revelada não é muita. Apenas a Áustria - cujo sistema financeiro está muito ligado ao Leste europeu - tem feito um esforço para montar um plano de ajuda. Pelo contrário, a França, através de Sarkozy, ainda tornou as coisas mais difíceis ao sugerir às construtoras de automóveis francesas para abandonarem as suas unidades produtivas na República Checa.
Ainda assim, todos consideram inevitável que, na iminência de um colapso, a ajuda surja. Principalmente porque um apoio deste tipo não seria um acto de altruísmo da Zona Euro em relação aos seus parceiros do Leste. Os efeitos de contágio no caso de um colapso em algum dos países do alargamento seriam muito significativos.
Neste momento, os bancos de países da Zona Euro têm em empréstimos nas economias da Europa de Leste cerca de 1250 mil milhões de euros e, com as divisas a cair e as economias a contrair-se, o crédito malparado tem estado a aumentar a um ritmo alarmante. No ano passado, passou de cinco para oito por cento do total do crédito e, de acordo com a Standard & Poor's, pode chegar aos 25 por cento durante a presente crise. Outra agência de notação financeira, a Moody's, já avisou que poderia ter de rever em baixa o seu rating para bancos da Zona Euro (especialmente na Áustria) que estão demasiado expostos às economias de Leste. Nem Portugal escapa, neste capítulo, já que o BCP (e outras empresas fora do sector bancário) têm também uma forte presença na Polónia. Por isso, para além de salvar bancos e empresas da falência, as maiores potências europeias podem estar prestes a ter de salvar Estados inteiros, seus parceiros na União Europeia.
1250
mil milhões de euros é o valor dos empréstimos que os bancos de países da zona euro têm nas economias da Europa de Leste