Inflação, crescimento, emprego e taxas de câmbio dão sinais diferentes para o debate dentro do BCE sobre o que fazer às taxas de juro. Uma nova subida, contudo, é vista como certa esta quinta-feira.
Numa conjuntura em que vários factores apontam para diferentes caminhos para a inflação, os responsáveis do Banco Central Europeu (BCE) podem esta quinta-feira anunciar a sua sétima subida consecutiva das taxas de juro desde Julho. Ainda assim, desta vez, há a possibilidade de a autoridade monetária abrandar o ritmo a que está apertar a sua política monetária, dando sinais mais claros de que uma declaração de tréguas na guerra contra a escalada de preços pode estar já mais próxima.
As discussões dentro do conselho do BCE na manhã desta quinta-feira, contudo, prometem ser acesas. Os seis membros do conselho executivo, incluindo a presidente, Christine Lagarde, e os 20 governadores dos países da zona euro, incluindo o português Mário Centeno, têm dado mostras, nos últimos meses, de estar divididos em relação ao que deve ser a política monetária seguida na zona euro.
De um lado, um grupo do qual faz parte o governador do Banco de Portugal tem defendido que depois de ter subido, desde Julho do ano passado, a sua taxa de depósito de -0,5% para 3%, o BCE deveria esperar que esse abrandamento no custo de financiamento produzisse efeito, em vez de, com novas subidas de taxas precipitadas, empurrar a economia da zona euro para uma recessão profunda.
Do outro lado, um diferente grupo de governadores, até aqui a maioria, considera que o nível alto a que ainda está a inflação e principalmente a persistência da inflação subjacente (aquela que não inclui os preços dos produtos alimentares e energéticos) exigem que se continue a agir de forma agressiva, pondo o mais rapidamente possível as taxas de juro a um nível ainda mais alto.
Como que procurando agendar um maior entendimento para o futuro, as duas partes concordaram na última reunião realizada em Março, quando foi decidida pela maioria uma nova subida de 0,5 pontos percentuais das taxas de juro, que o BCE deve decidir reunião a reunião, de acordo com os dados económicos que forem sendo conhecidos.
O problema é que aquilo que os dados económicos mostraram nas semanas desde a última reunião aponta em tantos sentidos distintos que não deverá ser suficiente para permitir uma convergência de opiniões de todos os responsáveis do BCE.
Desde a última reunião ficou a saber-se que, em Março, a inflação na zona euro caiu pelo sexto mês consecutivo para 6,9%, mostrando estar no bom caminho. No entanto, depois, com os dados da inflação de Abril publicados esta semana, a notícia foi que se interrompeu esta tendência, com uma nova subida da variação de preços para 7%.
Por outro lado, a inflação subjacente teve o percurso inverso, com mais uma subida em Março e um sinal de abrandamento em Abril, o primeiro nos últimos dez meses.
A dar força àqueles que defendem que o BCE não deve abrandar no seu combate à inflação, surgiram também nas últimas semanas os dados do PIB e do desemprego, com a economia da zona euro a conseguir escapar a um cenário de recessão técnica e a taxa de desemprego a registar uma nova descida outra vez em Março. A expectativa de que o mercado de trabalho continuará sob pressão faz acreditar que se irão passar a registar aumentos salariais mais elevados, algo que começa a ser evidente nas últimas negociações laborais concluídas na Alemanha.
Em contrapartida, os inquéritos realizados pelo Eurosistema aos bancos da zona euro mostram que estes estão já, de forma clara, a endurecer os critérios de concessão de crédito, uma tendência que pode significar uma transmissão mais rápida à economia da política monetária restritiva do BCE.
E, além disso, também a dar argumentos aos que acham que o BCE deveria fazer já uma pausa, continuou-se a assistir, nas últimas semanas, a uma apreciação do euro face ao dólar e a outras divisas, algo que faz com que os bens importados, como, por exemplo, os energéticos e os alimentares, possam ficar mais baratos.
Pesados todos estes factores, a discussão promete ser animada e um consenso muito difícil. Entre os analistas, a dúvida está em saber se o BCE mantém o ritmo de subida de taxas, elevando já a sua taxa de depósito dos actuais 3% para 3,5%, ou se abranda, e se decide por uma subida de 0,25 pontos. A maioria das apostas vai para este segundo cenário, que seria uma espécie de compromisso entre as duas facções existentes dentro do BCE, havendo mesmo a expectativa de que o discurso da presidente, Christine Lagarde, comece a dar uma ideia mais concreta de até onde é que o BCE poderá ir com as suas taxas de juro.
Para os portugueses, mais do que para a maioria dos outros habitantes da zona euro, a decisão do BCE terá um impacto imediato nas suas finanças pessoais. O ritmo da subida dos juros e o ponto máximo a que deverão chegar reflectem-se de forma muito rápida nas taxas Euribor, que servem de referência para a grande maioria dos empréstimos contraídos pelas famílias e as empresas em Portugal.
De igual modo, para o Estado, os custos a que se financia, seja através de emissões de dívida nos mercados, seja através da subscrição de certificados de aforro, também são influenciados pelo nível a que o BCE põe as suas taxas.