3.5.23

Dia do Trabalhador: as profissões mais bem (e mal) pagas em Portugal

Ana Lemos, in SIC



No Dia do Trabalhador, a Pordata faz uma “radiografia à situação laboral dos portugueses”, revelando quais os setores com mais trabalhadores, mas também as profissões mais bem e mais mal pagas. E, se há setores com falta de mão-de-obra, outros há em que o nível de escolaridade ou o sexo podem fazer a diferença no salário.


No feriado do 1.º de Maio, que este ano saberá ainda melhor para muitos por calhar a uma segunda-feira, a base de dados estatísticos da Fundação Francisco Manuel dos Santos partilha um retrato sobre a evolução, na última década, da situação dos trabalhadores portugueses.

Quais são, atualmente, as profissões com mais trabalhadores e as que mais cresceram e diminuíram? Onde se verifica o maior fosso salarial entre homens e mulheres? Quais são os setores pagam melhor e os que pagam menos? E, as qualificações têm ou não impacto?

A “radiografia laboral” foi feita pela Pordata com base nos Censos de 2021, cuja recolha de dados decorreu ainda durante a pandemia, e em comparação com os de 2011. As conclusões são várias. Por exemplo, “os trabalhadores não qualificados da indústria e da construção foram os que mais cresceram na última década (mais 51 mil)”, mas não são os mais bem pagos.

Além disso, os setores económicos que mais riqueza geram são também aqueles que praticam salários abaixo da média nacional. E, se gestores, diretores e profissionais das áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática (CTEM) estão entre os mais bem pagos, os trabalhadores de limpeza e de cuidados pessoais são os que ganham menos.

Vendedores “lideram”

Em 2021, a população empregada era de 4,4 milhões de pessoas, ou seja, um aumento de 1,5% em relação a 2011. O “top3” das profissões com mais trabalhadores é liderado por vendedores (365 mil), seguem-se os empregados de escritório e secretários (280 mil) e os trabalhadores qualificados da construção, eletricidade e eletrónica (273 mil).

Mas se focarmos a análise nas profissões que viram o número de efetivos aumentar, os vendedores saem deste ranking, mantém-se os trabalhadores não qualificados da indústria e da construção (+51 mil), bem como os empregados de escritório e secretários (+23 mil), e entram os profissionais de saúde (que não médicos e enfermeiros, +21 mil).

Quanto às profissões que mais diminuíram o número de efetivos, o destaque, de acordo com os dados da Pordata, vai para diretores e gerentes, do comércio a retalho e por grosso (-42 mil), trabalhadores de limpeza em casas particulares, hotéis e escritórios (-39 mil), vendedores (-36 mil), trabalhadores qualificados da construção, eletricidade e eletrónica (-36 mil), e, professores (-29 mil).
Setores “mais ricos” pagam abaixo da média

Quase meio milhão de pessoas trabalhava, há dois anos, “no comércio a retalho (461 mil), 348 mil na administração pública, 328 mil na educação, e 277 mil nas atividades de saúde”. No conjunto, estes trabalhadores representavam um terço do total da mão-de-obra.

Já as maiores perdas, na última década, registaram-se no setor da construção (-68 mil na promoção imobiliária), comércio (-59 mil no retalho), educação (-48 mil), indústria transformadora (-42 mil no vestuário) e alojamento e restauração (-37 mil na restauração).

Há, porém, uma outra conclusão deste estudo da Pordata que importa salientar. Um determinado setor económico pode até ter perdido trabalhadores e praticar salários abaixo da média nacional, mas ser, ainda assim, dos que gerou mais riqueza (VAB – Valor acrescentado bruto).


“É o caso da indústria transformadora que gerou 13,8% do VAB, com destaque para as indústrias alimentar e têxtil, [e] onde os salários médios são 121 euros e 340 euros, [respetivamente], inferiores à média nacional". O mesmo sucede nas atividades imobiliárias e o comércio (13,4% e 13,1% do VAB), na administração pública e na saúde (7,4% e 7% do VAB).

Mas é no alojamento e restauração (VAB de 3,6%), na agricultura (VAB de 2,5%) e nas atividades administrativas e serviços de apoio (VAB de 3,8%) que se encontram as maiores diferenças a nível nacional. Os trabalhadores destes setores recebem, em média, menos 380 euros e menos 283 euros, respetivamente, face à média nacional.


Em sentido oposto, os setores económicos mais bem remunerados são o da eletricidade, gás e água - com salário médio 1.672 euros acima da média nacional, e, o das atividades financeiras e de seguros - com salário médio 1.080 euros acima da média nacional.

Ainda assim, “a produtividade do trabalho em Portugal é 35% inferior à média da União Europeia (UE)”. Entre os 27, Portugal é o quinto país com menor produtividade no trabalho, fixando-se apenas à frente de Letónia, Polónia, Grécia e Bulgária.
Diretores e gestores vs auxiliares e trabalhadores de limpeza

Tendo por base os dados de 2021 e o universo de trabalhadores por conta de outrem em empresas, o salário que auferiam era, em média, de 1.294 euros ilíquidos (antes da dedução de quaisquer descontos). Em comparação com 2011, este valor representa um aumento de 210 euros, mas que se “descontado o efeito da inflação” desce para 118 euros.

E que trabalhadores recebiam um salário acima da média nacional?representantes do poder legislativo e de órgãos executivos (+1.483 euros);
profissões intelectuais e científicas (+701 euros);
técnicos de nível intermédio (+314 euros), entre os quais se verifica uma exceção: os técnicos e profissionais de nível intermédio da saúde - como técnicos de equipamento de diagnóstico e terapêutico, técnicos de laboratório, auxiliares de enfermagem e pessoal de ambulâncias - que auferem menos 108 euros do que a média nacional.

Dentro deste grupo, encontramos as profissões mais bem pagas:a cargos de gestão ou direção: representantes do poder legislativo e de órgãos executivos, dirigentes superiores da Administração Pública, diretores e gestores de empresas (ganhavam, em média, 3.577 euros);
os diretores de serviços administrativos e comerciais: financeiros, de recursos humanos, de vendas e marketing, publicidade e relações-públicas (3.091 euros);
os diretores de produção e de serviços especializados: produção da agricultura, indústrias, construção, diretores de compras, distribuição, transportes, diretores de serviços de saúde, de sucursais de bancos, serviços financeiros e seguro (2.826 euros); e,
os técnicos dos serviços jurídicos, sociais, desportivos e culturais: atletas e jogadores profissionais, árbitros, treinadores, fotógrafos e chefes de cozinha (2.331 euros).

Neste grupo, destacam-se ainda as profissões das áreas da ciência, tecnologia, engenharia e matemática (CTEM) com remunerações acima dos 1.850 euros, e das quais se destacam:especialistas em tecnologias de informação e comunicação (2.198 euros);
especialistas em finanças, contabilidade, organização administrativa, relações-públicas e comerciais (2.111 euros);
especialistas das ciências físicas, matemáticas, engenharias (2.019 euros);
profissionais de saúde (1.869 euros).

Quanto às profissões mais mal pagas são, sobretudo três as que a Pordata refere:assistente na preparação de refeições (761 euros);
trabalhador de limpeza (791 euros); e,
trabalhador dos cuidados pessoais: auxiliares de educadores de infância e de professores e auxiliares nos serviços de saúde e ajudantes familiares (818 euros).

Desigualdade entre sexos mantém-se

Se a nossa análise se centrar na diferença entre homens e mulheres, o cenário muda e sempre em prejuízo do sexo feminino, que ganha sempre menos. Mas vejamos aquele que a Pordata destaca como “o maior fosso”.

Os técnicos dos serviços jurídicos, sociais, desportivos e culturais: atletas e jogadores profissionais, árbitros, treinadores, fotógrafos e chefes de cozinha constam no grupo das profissões mais bem pagas. Acontece que se quem exercer essa profissão for uma mulher ganha 1.037 euros, se for um homem o salário ronda os 2.409 euros.

Neste caso, a diferença salarial é superior a 1.300 euros, mas há outros exemplos e em várias áreas:representantes do poder legislativo e de órgãos executivos, dirigentes superiores da Administração Pública, diretores e gestores de empresas - os homens ganham, em média, mais 1.070 euros do que as mulheres;
diretores de produção - a diferença é de mais 585 euros para os homens;
diretores de serviços administrativos e comerciais - os homens ganham mais 577 euros;
especialistas em finanças, contabilidade, organização administrativa, relações-públicas e comerciais - a diferença é de 452 euros; e,
Profissionais de saúde - os homens ganham, em média, mais 442 euros.
Nível de escolarização (ainda) é baixo

Em 2021, “cerca de 6 em cada 10 trabalhadores da agricultura, construção e indústria tinham, no máximo, o ensino básico, evidenciando a ainda baixa escolarização de alguns setores económicos”. Este é também “o nível de ensino de metade dos trabalhadores das atividades administrativas e dos serviços de apoio, do alojamento e restauração”, conclui a Pordata.

Contudo, em setores como atividades de informação e comunicação (69%), atividades financeiras e de seguros (61%), de consultoria e científicas (59%) e da educação (58%), mais de metade dos trabalhadores têm o ensino superior.