Raquel Martins, in Público
Aumento do emprego no primeiro trimestre do ano ficou a ver-se sobretudo ao acréscimo dos contratos a termo e do trabalho a tempo parcial. Desemprego subiu para 7,2%, o nível mais alto desde 2020.
Depois dos sinais dados no final do ano passado, as estatísticas do emprego relativas ao primeiro trimestre de 2023 confirmam que se está a assistir a um momento de viragem no mercado de trabalho. A taxa de desemprego subiu para 7,2%, atingindo o nível mais alto desde o final de 2020, o emprego está a crescer a um ritmo mais lento e o aumento do emprego por conta de outrem está a ser feito à custa dos vínculos precários e do trabalho a tempo parcial.
Os dados divulgados nesta quarta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) dão conta de 4,925 milhões de pessoas empregadas, mais 0,5% do que no período homólogo.
Embora se continue a assistir a um aumento da população empregada, o ritmo de crescimento é agora mais lento. A trajectória ao longo do último ano mostra que, ao aumento homólogo de 4,7% registado no primeiro trimestre de 2022, seguiu-se uma subida de 1,9% no segundo trimestre, de 1% no terceiro e de 0,5% no último trimestre de 2022 e no primeiro de 2023.
Olhando para o aumento homólogo, face a igual trimestre do ano passado, do emprego por conta de outrem (de 1%, o que corresponde a mais 41,9 mil pessoas), ele ficou a dever-se sobretudo ao crescimento dos contratos a termo, dos outros tipos de contrato (onde se incluem os trabalhadores a recibos verdes) e do trabalho a tempo parcial.
Entre o primeiro trimestre de 2022 e o de 2023, os contratos a termo aumentaram 7,7%, para 597 mil, e os outros tipos de contrato registaram uma subida de 6,7%, para um total de 120 mil pessoas.
Os contratos sem termo continuem a ser predominantes no mercado de trabalho nacional (representam 83% dos 4,189 milhões de trabalhadores por conta de outrem), mas, ao contrário do que aconteceu com os vínculos precários, tiveram um recuo homólogo de 0,2%.
O trabalho a tempo parcial também ganhou terreno e teve um acréscimo de 6,5%, abrangendo 414 mil pessoas, assim como o subemprego a tempo parcial (pessoas que desejavam trabalhar a tempo inteiro, mas não conseguiram), que aumentou 8,3%, para um total de 156 mil pessoas. Já o trabalho a tempo completo estagnou, abrangendo 4,5 milhões de pessoas.
No destaque divulgado nesta quarta-feira, o INE sublinha ainda que a variação homóloga da população empregada resultou do acréscimo do emprego nas mulheres (18,5 mil); nas pessoas dos 16 aos 24 anos (47,1 mil); que completaram, no máximo, o 3.º ciclo do básico (65,2 mil) ou o ensino secundário (63,2 mil).
Além disso, destaca-se o aumento do emprego no sector da indústria, construção, energia e água (37,9 mil), em particular nas actividades de construção (25,8 mil), cujo aumento representou 68,1% da variação do sector.
Uma das explicações para o aumento do emprego pode estar na redução da população inactiva com 16 ou mais anos. Estimado em 3,537 milhões de pessoas, este indicador diminuiu em relação aos dois períodos de comparação, o trimestre anterior (34,6 mil) e o homólogo (55,8 mil), o que pode levar a concluir que mais pessoas entraram no mercado de trabalho.
Os dados mostram que, ainda assim, a subida do emprego no arranque de 2023 não foi suficiente para conter o aumento do desemprego. É que enquanto o número de desempregados foi superior em 71,9 mil pessoas, o emprego aumentou apenas em 23,8 mil.
Desemprego no nível mais alto desde a pandemia
De acordo com o INE, o desemprego afectou 7,2% da população activa, atingindo o nível mais elevado desde o quarto trimestre de 2020 (7,3%), ano marcado pela pandemia de covid-19, e ficando acima dos 6,5% apurados para o trimestre anterior e dos 5,9% registados nos três primeiros meses de 2022.
No arranque do ano, havia 380,3 mil pessoas desempregadas, mais 71,9 mil do que no período homólogo e mais 37,6 mil pessoas do que no trimestre anterior.
A evolução homóloga da população desempregada resultou do acréscimo do desemprego nos homens (29,9%), nas pessoas dos 35 aos 44 anos (47,1%) e que completaram o 3.º ciclo do ensino básico (28,9%) ou o ensino secundário ou pós-secundário (32,5%).
Em contraciclo, o desemprego jovem (pessoas dos 16 aos 24 anos) foi estimada em 19,6%, valor inferior em 0,3 pontos percentuais ao do trimestre anterior e em um ponto percentual ao do trimestre homólogo.
Na comparação homóloga, a taxa de desemprego aumentou em todas as regiões do continente – destacando-se o acréscimo de 2,2 pontos percentuais no Norte – e diminuiu nas regiões autónomas.