Joaquim Forte, in Jornal de Notícias
130 inscrições para a concessão de espaços levam ocupação aos 100%
Um reformado, uma empresária e um operário. Três dos muitos casos de 'novos agricultores' que alugaram talhões na Horta Pedagógica de Guimarães. Às portas da cidade, na Veiga de Creixomil, uma das zonas mais férteis do concelho.
"Um tipo na reforma tem 24 horas de vazio. Vir para aqui é uma forma de preencher parte desse vazio todo. É um remédio anti-monotonia".
António Sousa Freitas, 64 anos, reformado da Universidade do Minho, nunca teve contacto com as lides da terra para lá de tratar do pequeno jardim de sua casa. Mas isso não o inibiu de arregaçar as mãos e desatar a cultivar uma parcela de terreno de 80 metros quadrados na Horta Pedagógica de Guimarães. Couve, alface, ervilhas, favas, alhos… tudo para consumo próprio. "Se der, claro!".
"Se não viesse aqui, estava em casa a ver o programa da manhã na televisão, sentado no sofá, a engordar. Aqui, sempre estou em contacto com a natureza, ao ar livre, e a exercitar-me", explica Sousa, fazendo questão de vincar o "bom trabalho" da Câmara Municipal de Guimarães. "Isto também é cultura", defende, referindo-se a 2012, ano da Capital Europeia da Cultura. Em Guimarães.
Tal como ele, muitos outros - reformados, professores, contabilistas, operários - alugaram um talhão na grande horta de três hectares de área, perto do centro comercial de Guimarães. Sousa conta que descobriu a Horta numa caminhada pela zona: olhou os vários canteiros, os talhões bem tratados e decidiu candidatar-se. Afinal, lembra, são apenas cinco euros por ano.
Helena Chamusca é empresária e trabalho não falta a esta vimaranense por adopção, nascida em Bragança, habituada às lides do campo por força da convivência familiar. Decidiu, mais por influência do marido, funcionário público aposentado, adoptar uma das parcelas da Horta Pedagógica. E ali passa algumas horas por semana, quando a confecção o permite, a vigiar as plantações. "Não percebo muito disto, pedi ajuda a um senhor que sabe da arte", explica Helena, que decidiu aventurar-se nas favas, ervilhas alhos, cenouras.
Mãe de três filhos, todos estudantes na universidade, Helena diz que o tempo não é muito, mais ainda agora que decidiu fazer o nono ano de escolaridade via Novas Oportunidades. Mas esta empresária encara a Horta como "uma boa oportunidade para aprender como se trabalha a terra" e para não fazer como "um senhor que também veio para cá, que não percebia nada de hortas e desatou a plantar alhos já descascados, como se estivesse a preparar um prato qualquer".
Ali ao lado, João Araújo, 33 anos, com o filho, Francisco, de dois, pela mão, namora a hortinha que "alugou" e onde pensa semear couves, tomates, cebolas e tudo o mais que faz falta numa cozinha. Operário numa fábrica de cartonagem, com alguma experiência de jardinagem, João acha que a Horta "foi uma grande ideia", para mais ficando ela num meio urbano. "Gosto da vida do campo, do contacto com a terra. E espero poder ter sucesso na minha hortinha".