26.1.09

Dia escolar tornou-se "muito longo para as crianças" portuguesas

Inês Cardoso, in Jornal de Notícias

Relatório encomendado pelo Ministério da Educação elogia reforma do Ensino Básico, mas destaca necessidade de inovar na articulação entre o currículo nuclear e o de enriquecimento


Melhores instalações e currículos "de melhor qualidade". Um relatório de peritos internacionais elogia a reforma do primeiro ciclo do Ensino Básico, mas destaca que o dia escolar se tornou "muito longo para as crianças".

Elaborado por uma equipa liderada por Peter Matthews, avaliador que também trabalha para a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), o estudo foi encomendado pelo Ministério da Educação e será hoje apresentado em Lisboa, numa cerimónia apadrinhada pelo primeiro-ministro. Elogioso na maioria dos parâmetros, o relatório acentua a "forma vigorosa" como foram encerradas "pequenas e ineficazes escolas" e a "visão política clara" que ditou as mudanças.

O grupo de peritos reconhece que a oferta da escola a tempo inteiro responde a "uma marcada necessidade social de assegurar a guarda das crianças ao longo do dia", o que é "particularmente importante no apoio às famílias de baixos rendimentos e às famílias monoparentais".

O problema está no reverso da medalha: como na maioria das escolas o enriquecimento curricular se desenvolve em sala de aula e usa métodos dirigidos pelo professor, "o efeito é o de alongar o currículo nuclear através do acréscimo de disciplinas suplementares, tornando o dia escolar muito longo para as crianças". Recomenda-se "experimentação e pensamento inovador" para melhor gestão e articulação de currículos.

Com alguma ironia, o psicólogo Eduardo Sá tem alertado para o problema dizendo que "é a favor de um horário de trabalho para a criança que não vá além das 40 horas semanais". Ouvido pelo JN, elogia a observação feita pelo grupo de peritos e destaca que as actividades de enriquecimento devem ter uma forte componente desportiva e criativa, para "proporcionar um desenvolvimento plural". Caso contrário, a sobrecarga horária apenas resulta em "mais distracção, mais hiperactividade e crianças mais zangadas com a escola".

O alerta não é apenas dirigido a decisores políticos e professores, mas também a pais que inscrevem os filhos em muitas actividades extra-curriculares, tornando-os "jovens tecnocratas de fraldas e de mochila". Brincar é um assunto sério e essencial para o crescimento: "É uma actividade obrigatória todos os dias e não apenas ao fim-de-semana".