Sérgio Aníbal, in Jornal Público
A OCDE antecipa novo recuo da economia e o FMI diz que precisa de mais dinheiro, mas o BCE acredita numa crise de curta duração
Recessão mundial forte, mas de curta duração: apesar dos recentes sinais de agravamento da crise um pouco por todo o mundo, Jean-Claude Trichet, presidente do Banco Central Europeu (BCE), decidiu ontem dar um tom mais optimista ao seu discurso, apontando 2010 como o ano em que a economia mundial voltará a uma trajectória positiva.
"Globalmente, temos o sentimento de que 2010 será um ano de recuperação, de significativa recuperação", disse o presidente do Banco Central Europeu, na conferência de imprensa que se seguiu ao encontro dos responsáveis das principais autoridades monetárias realizado em Basileia, na Suíça.
Trichet defendeu que, depois do "abrandamento sincronizado" que se registará este ano, estarão reunidas as condições para uma melhoria da actividade económica já no próximo ano. Em primeiro lugar porque as acções tomadas pelos bancos centrais "provaram ser eficientes para evitar um colapso" dos mercados financeiros. Depois, por causa dos estímulos económicos planeados pelo Governo. E por fim, porque a concessão de crédito "irá desempenhar progressivamente um papel positivo".
O cenário de uma recessão mundial forte, mas de duração relativamente curta, traçado por Trichet, surge numa altura em que, apesar de a economia estar em quebra acentuada, o sistema financeiro vai dando, tanto nos EUA como na Europa, alguns sinais de normalização, como o demonstra, por exemplo, a descida progressiva das taxas Euribor. Mas o presidente do BCE pede ainda "confiança". "Na actual situação, mais do que nunca, a confiança é essencial. Faremos tudo para a reforçar", afirmou.
Sinais de abrandamento
Ao contrário do que agora prognostica Trichet, vários economistas, incluindo o mais recente Prémio Nobel, Paul Krugman, têm alertado para o risco de a actual crise poder resultar num período muito prolongado de estagnação da economia. E a história revela que a maior parte das crises financeiras do passado tiveram como consequência uma travagem da economia durante vários anos.
Para já, no que diz respeito ao presente e às estimativas para os próximos seis meses, os indicadores continuam a degradar-se de dia para dia. O indicador avançado da OCDE - que procura antecipar a evolução da economia dentro de seis meses - voltou a registar um declínio nas maiores economias industrializadas e em mercados emergentes como o Brasil, China e Rússia.
Portugal também não escapa à deterioração das condições da economia, tendo o seu indicador avançado revelado mais uma descida de 93,9 para 91,5 pontos, colocando o país, igualmente, em situação de "forte abrandamento, em meados deste ano.
O cenário nos mercados emergentes também não aponta para um grande optimismo relativamente a recuperações. Para além do anúncio de um abrandamento da economia chinesa, o director executivo do Fundo Monetário Internacional avisou ontem, em entrevista à Bloomberg, que pode precisar de mais 150 mil milhões de dólares no seu orçamento para responder às necessidades de ajuda que podem surgir dos países dos mercados emergentes. Dominique Strauss-Kahn disse ainda que deverá rever em baixa a previsão de crescimento mundial de 2,2 por cento feita em Novembro.


