27.1.09

Homofobia em meio escolar é causa de abandono precoce e de tentativas suicidas

Andreia Sanches, in Jornal Público

Relatório da Rede ex aequo sobre homofobia nas escolas foi ontem enviado à ministra da Educação e dá conta de 92 queixas, sobretudo de alunos


Em dois anos, a Rede ex aequo - Associação de Jovens Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgéneros e Simpatizantes recebeu 92 denúncias de discriminação relacionadas com a orientação sexual e a identidade de género. Alunos do ensino secundário e superior são os autores da maioria dos relatos que dão conta de agressões verbais, físicas ou psicológicas. Alguns sentiram-nas na pele. Outros decidiram divulgar situações a que assistiram.

"Foram os PIORES anos da minha vida", escreve um dos queixosos sobre o tempo que passou na escola. Como outros, este jovem de 15 anos, que se identifica como transexual, acabou por mudar de estabelecimento de ensino por causa dos ataques de que era alvo. Seis acabaram mesmo por deixar de estudar. E oito confessam que tentaram o suicídio.

"Quando me intimidavam com discriminações verbais, sentia-me rebaixado. Talvez por me sentir tão inferior, pensei muitas vezes que o suicídio seria a melhor forma de acabar com a situação", relatou um rapaz de 18 anos, que se identifica como homossexual. Vive em Santarém.

O Relatório sobre homofobia e transfobia do Observatório de Educação da ex aequo tem base em queixas que entre Outubro de 2006 e Outubro de 2008 lhe chegaram através de um formulário disponível on-line (www.rea.pt/observatorio.html).

Contém testemunhos na primeira pessoa, como este: "Presenciei um confronto entre uma funcionária auxiliar de educação e duas amigas minhas, ambas lésbicas. A auxiliar chamou-lhes nomes, embaraçou-as em público. Nunca houve uma resposta da escola no sentido de protecção dessas alunas."

O documento revela também números como estes: 78 pessoas dizem ter sido agredidas verbalmente, 19 relatam agressões físicas, mais de 50 reportam violência psicológica. Muitas assistiram a actos desse tipo.

Os testemunhos vêm sobretudo de alunos (83 por cento), mas também de funcionários e professores (10 por cento). Os agressores são também alunos, colegas das vítimas, mas também desconhecidos, funcionários, docentes. A escola e as imediações são o palco de muitos destes actos.

O documento foi enviado à ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues. A associação lembra que todos os estudos mostram que as agressões contribuem "seriamente" para o isolamento, tendências suicidas, insucesso e abandono escolar. Rita Paulos, porta-voz da Rede, pede medidas - como políticas educativas que reflictam um empenho em "formar e informar correctamente professores, alunos e auxiliares".