14.1.09

Alunos do secundário já têm mais qualificações que os pais

Clara Viana, in Jornal Público

O êxito na escola continua a ter uma marca de classe, confirma estudo do Ministério da Educação


Mais de um terço dos estudantes (36,2 por cento) que no ano passado entraram para o 10.º ano possuíam já um nível de qualificação mais elevado que o dos seus pais. E outros 23,9 por cento estavam a caminho de alcançar esta meta, ou seja, cerca de dois terços dos jovens que se encontravam à entrada do ensino secundário já tinha ultrapassado ou estava prestes a ultrapassar os seus familiares, revela um estudo ontem divulgado pelo Ministério da Educação.

Estes dados dão conta de "um processo intergeracional de aumento das qualificações", frisa-se no estudo desenvolvido pelo Observatório de Trajectos dos Estudantes do Ensino Secundário, com base em inquéritos a 46.175 alunos do 10.º ano ou equivalente (correspondente a 44 por cento do universo de alunos). Não são dados que surpreendam face ao cenário de base de Portugal. Ainda no Censos de 2001 eram identificados dez por cento de analfabetos e dava-se conta que apenas 15 por cento da população tinha então concluído o ensino secundário. Entre os jovens agora inquiridos, 21,6 por cento têm pais com o secundário completo. Com o superior, a percentagem desce para 18,3 por cento.

Mas o progresso entretanto registado entre os jovens continua a ser marcado por "processos de selecção social", adverte-se. Por um lado, à entrada do ensino secundário - e, portanto, quando já está ultrapassada a escolaridade obrigatória -, verifica-se "um peso expressivo de alunos oriundos de famílias com recursos escolares e profissões com estatuto socioeconómico elevado". Por outro, o maior ou menor sucesso aparece muito associado à "linhagem".

As diferenças são ainda esmagadoras: os jovens inquiridos "que têm mais frequentemente trajectos escolares marcados por um elevado desempenho escolar [65,8 por cento] são oriundos de famílias vinculadas a profissões altamente qualificadas". Aquela percentagem desce para 37,9 por cento entre os estudantes oriundos de famílias operárias.

Ainda assim, a maioria dos inquiridos (62 por cento) nunca sofreu retenções e mais de metade (56,9 por cento) concluíram o 9.º ano sem negativas. A maioria (59 por cento) encontra-se em cursos científico-humanistas e os restantes em cursos profissionalmente qualificantes.

Outro processo de selecção: o estudo vem confirmar que, no geral, estes últimos vêm de famílias com menor escolaridade. Tiveram também percursos escolares mais acidentados: apenas 33,8 por cento tinham 15 ou menos anos, que é a idade esperada nesta fase. Esta percentagem sobe para os 82,5 por cento nos que frequentam os cursos científico-humanistas.

Outra conclusão: uma grande proporção de alunos "não sabe que profissão terá aos 30 anos".

56,9%
Dos alunos inquiridos que no ano passado entraram no secundário concluíram o 9.º ano sem negativas, mas são muitos os que não sabem que profissão irão ter no futuro