6.1.09

Portugal "adaptou-se mal ao choque" da adesão ao euro e tem hoje problemas estruturais, diz Luís Amado

Sofia Branco, in Jornal Público

Ministro dos Negócios Estrangeiros traçou prioridades da política externa nacional para 2009, em seminário diplomático no Palácio das Necessidades


Não foi um discurso de circunstância o que ontem o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros fez perante as dezenas de embaixadores presentes no ritual do seminário que abre o ano diplomático. Luís Amado reconheceu, de forma até aqui pouco usual, que "o país adaptou-se mal ao choque da integração na união económica e monetária" europeia.

A "rápida convergência" de Portugal resultou num "processo de divergência paulatino" a partir da integração no "núcleo duro" da moeda única europeia, há dez anos. Daí advieram problemas estruturais para o país, como a existência de um "Estado pouco eficiente, uma economia pouco competitiva e uma sociedade com pouca autonomia, excessivamente dependente do Estado", indicou Amado.

"O Governo procurou reagir" com um programa de reformas e de contenção orçamental, mas a crise internacional veio "interromper um processo de recuperação que o país vinha seguindo", reconheceu o ministro, apontando: "No momento em que é preciso mais intervenção do Estado, o Estado tem limitações e constrangimentos orçamentais inquestionáveis. No momento em que a economia se devia flexibilizar e adaptar rapidamente a uma mudança de ambiente tão drástica, as fragilidades do tecido produtivo português sobressaem. E no momento em que precisávamos de uma sociedade mais forte, com níveis de bem-estar sustentáveis, a fraqueza do tecido social evidencia-se".

Neste contexto, só com "esforço e sacrifício" Portugal se manterá no núcleo duro da União Europeia (UE), a que quis pertencer desde o primeiro momento, frisou o governante, sustentando que o país deve "aproveitar a presidência da UE [segundo semestre de 2007] para consolidar a sua posição no sistema europeu".

O ministro aproveitou ainda para fixar as prioridades da política externa portuguesa para 2009: promover e defender os interesses económicos do país, atrair investimento e captar turismo; fazer um "acompanhamento meticuloso" do desenvolvimento da "crise global"; "tentar antecipar as mudanças em curso no sistema internacional", no "início de um longo, complexo e perigoso processo de reequilíbrio".

"É um tempo difícil e apaixonante", que exigirá da carreira diplomática "mais e difíceis tarefas", frisou Amado. "Sabemos onde estamos e temos alianças sólidas", mas é preciso encontrar um rumo para a política externa "que não se reduza à integração europeia" e promova a "liberdade de movimento" dentro dessas alianças.

América Latina e África como eixos do "fortalecimento do sistema euro-atlântico", "reforçar a relação com o mundo árabe islâmico" e "abrir embaixadas na Ásia" são algumas metas. Afirmar a vocação universalista" da política externa nacional passa ainda por "ganhar a candidatura ao Conselho de Segurança da ONU" para o mandato 2011-2012.