3.8.09

Empresas sociais nascem "como cerejas" na paróquia

por Rita Carvalho, in Diário de Notícias

Lavandaria, oficina, ginásio, cafetaria, florista, papelaria e limpezas são algumas empresas sociais que estão a surgir no novo centro da Igreja do Estoril. BES financia negócios


Os filhos de Ana Teixeira, hoje com 8 e 16 anos, frequentaram a creche e o ATL do Centro Paroquial do Estoril. E foi aí que, desempregada, começou a fazer as primeiras limpezas, alargando-as depois à igreja paroquial. Agora que o novo centro da paróquia está prestes a abrir, Ana terá uma nova missão. Passará de empregada a empresária e sobre ela recairá a coordenação de todas as limpezas.

Ana vai criar uma empresa social que prestará serviços no Centro Comunitário da Senhora da Boa Nova, a nova estrutura do centro pa-roquial, erguida onde durante anos foi o degradado Bairro do Fim do Mundo. Na sequência do projecto Igreja Solidária, lançado pelo Patriarcado de Lisboa há três meses para ajudar as famílias a superar a crise, Ana beneficiará do financiamento bancário do Banco Espírito Santo que lhe permitirá criar uma empresa em nome individual. Uma espécie de microcrédito para empresas que funcionam em torno dos centros sociais paroquiais.

"O objectivo é ajudar as pessoas a levar à prática o seu espírito empreendedor. Para isso, é preciso mudar mentalidades, pois ainda vigora a ideia de que o importante é ter emprego e não trabalho", explica Maria do Rosário Líbano Monteiro, vice-presidente do Centro Paroquial do Estoril e responsável do projecto da diocese de Lisboa. "A Ana não lhe faltava nada: experiência, responsabili-dade, vontade. Só tinha medo!", acrescenta, arrancando um sorriso tímido a Ana, que confessa, ainda apreensiva: "Foi sugestão deles. Eu nunca tinha pensado nisso..."

Maria do Rosário lembra que Ana ainda quis desistir da limpeza do centro quando percebeu a dificuldade em conciliar o horário com a família. "Mas arranjámos uma solução. Começou a vir mais cedo, e à tarde arranjámos-lhe mais trabalho", diz. Agora, ao fim de semana, conta com a ajuda do marido, desempregado, e do filho.

Esta ex-governanta de hotel, que ficou desempregada da restauração há poucos meses, ainda não sabe quanto dinheiro preci-sará para montar o negócio. Mas sabe que ele é garantido porque o risco de não ter sucesso é quase nulo. Nestes projectos, é essa a garantia que os centros paroquiais dão à entidade bancária, pois são os consumidores dos bens e ser-viços destas microempresas.

Aos 38 anos, Ana não será a única a ver no novo complexo do Estoril uma oportunidade de viragem profissional. Aqui vão nascer, pelo menos, mais sete empresas sociais que prestarão serviço ao centro: um ginásio, uma lavandaria/engomadoria, uma marcenaria e carpintaria, que funcionarão numa oficina social, uma florista, uma papelaria e uma cafetaria.

Para quase todos já há candidatos a empresários, embora uns projectos estejam mais avançados do que outros (ver textos em baixo). Maria do Rosário Líbano Monteiro está confiante: "Os projectos nascem como cerejas, uns atrás dos outros. Falta-me é tempo para pensar em mais", desabafa a coordenadora, consciente de que é preciso dar confiança às pessoas para que se lancem nos projectos.

No novo complexo da Boa Nova haverá creche, centro de dia, jardim-de-infância, apoio domiciliário, igreja, colégio do 1.º ao 6.º anos, um auditório com 610 lugares, campo de jogos, salas de formação e refeitório, onde serão servidas também refeições sociais. "Só aqui haverá 70 funcionários. Para além das empresas sociais, que ainda trarão mais postos de trabalho", conclui.