4.8.09

PME têm falta de dinheiro e confiança

Alexandra Figueira, in Jornal de Notícias

Inquérito revela que empresas não planeiam investir nem contratar.Associação reclama apoios diferentes


António Marques, presidente da AIMinho, pega nos resultados do inquérito aos associados e desfia o retrato das pequenas e médias empresas minhotas, e não só. "Falta de confiança, falta de tesouraria e uma tentativa para aguentar o emprego".

Resume assim, em três ideias, as respostas de mais de três centenas de associados a um inquérito periódico, no qual a associação avalia o clima de negócios.

Primeiro a falta de confiança, com sete em cada dez empresas a sentirem que a situação económica se agravou, nos últimos meses. Quase todas dizem não encarar o futuro com optimismo suficiente para investir ou contratar pessoas - aliás, nos últimos meses também não reforçaram o quadro de pessoal. Mas também evitam despedir. Só um terço das empresas disse ter dispensado gente nos últimos quatro meses, tantas quantas respondem ter a intenção de o fazer no futuro próximo - um problema que, a verificar-se, agravará o desemprego, numa região onde a taxa já passou os 10%.

Um outro problema identificado pela AIMinho é a falta de dinheiro para pagar as despesas mais imediatas. Uma vez de 40% das empresas exportam, levantam-se dois problemas: os seguros de crédito, "ainda por resolver", e o recebimento de IVA do Estado, "que costuma atrasar o pagamento", disse António Marques.

Além disso, oito em cada dez inquiridas dizem ser cada vez mais difícil cobrar as facturas dos clientes para ter dinheiro em caixa. E se a maioria costuma recorrer a empréstimos da Banca, é certo que nos últimos meses não o tem feito - ou conseguido fazer, admite o responsável associativo.

Ainda, mais de dois terços dos inquiridos disseram não ter recebido apoios públicos, nos últimos meses, fazendo uma avaliação negativa (40%) ou indiferente (30%) do impacto das medidas públicas de combate à crise. Além de que dois terços são credores do Estado, mas só um terço diz que o sector público cumpre as suas obrigações a tempo e horas.

A dificuldade em conseguir dinheiro a curto prazo - seja cobrando facturas, seja recebendo apoios públicos ou até o dinheiro que o Estado deve - é considerada central por António Marques. Daí desfiar uma série de medidas que a Associação Industrial do Minho gostaria de ver tomadas.

Na relação financeira com o Estado, o presidente da associação dispara três medidas. Logo à partida, acabar com o Pagamento Especial por Conta (porque nada garante que este ano a empresa tenha o mesmo rendimento que teve no ano passado).

Em segundo lugar, um mecanismo de acerto de contas com o Estado, em que se via o que a empresa deve e tem a haver e só a diferença entre os dois valores é que mudava de mãos, para evitar situações em que, por exemplo, a empresa facturou uma obra ao Estado e teve que pagar IVA, apesar de o Estado não ter pago o serviço.

Ainda, fazer duas mudanças no IVA, para que seja pago só quando o cliente saldar a factura e não antes e para que o Estado faça as devoluções dentro do prazo legal.

"A base da retoma está nas micro, pequenas e médias empresas e o Governo ainda não percebeu isso", afirmou o dirigente associativo. E defende que o Estado devia usar o seu próprio dinheiro para o programa PME Invest e para saldar as suas dívidas junto das empresas, em vez de recorrer a mais crédito da Banca.