1.8.19

Proprietários deixam Alojamento Local para voltar ao arrendamento

André Rito, in Expresso

A compra de casa exige um menor esforço financeiro do que o arrendamento

Estudo sobre acesso à habitação revela tendências do mercado. Comprar casa representa encargos até 61% inferior aos arrendamentos

Os proprietários que transformaram as suas casas para Alojamento Local (AL) estão a regressar ao arrendamento tradicional. De acordo com o estudo da Century 21, “Acessibilidade da habitação em Portugal”, em colaboração com o Confidencial Imobiliário, os imóveis em segunda mão registaram um ajuste de 14% aquando da escritura, relativamente ao preço inicial. Ou seja, é mais barato comprar do que arrendar. “Os privados estão a ajustar as suas expectativas. A nova construção está a potenciar este efeito”, diz ao Expresso Ricardo Sousa, CEO da Century 21 Portugal.

Outro efeito e tendência resultante deste ajuste é a redução das casas de arrendamento de curta duração. “Lisboa mudou de escala, hoje tem uma capacidade de atração e concentração urbana enormes. Depois do boom do AL, a grande maioria dos pequenos proprietários estão a voltar ao arrendamento tradicional de longa duração. Primeiro porque dá muito trabalho, e contratar empresas para o fazer retira-lhes o rendimento.”
O estudo, divulgado esta sexta-feira, deixa evidente que a compra de casa exige um menor esforço financeiro do que o arrendamento em todos os concelhos do país. Mas a taxa de esforço exigida às famílias apresenta diferenças assinaláveis, comparando os concelhos mais turísticos com o resto do país. “Os três fatores que mais condicionam o acesso à habitação são a concentração urbana, turismo e procura internacional”, refere o CEO da Century 21.

Ora, se os concelhos com maior densidade populacional e mais atrativos na procura internacional são os mais rentáveis, o estudo revela também que se trata daqueles onde a taxa de esforço para aquisição é mais expressiva. “Destacam-se os concelhos de Lisboa, Lagos, Loulé, Tavira, Albufeira e Cascais, muito distantes das restantes realidades nacionais, quer em termos de valorização do parque imobiliário quer na taxa de esforço para acesso à habitação”, refere o estudo.

Neste contexto, afirma Ricardo Sousa, “é expectável que as taxas de esforço na Área Metropolitana de Lisboa (AML) continuem a subir nos próximos meses, e na generalidade dos concelhos, em linha com o aumento da procura de casas nos municípios limítrofes da capital”. Trata-se de um fenómeno que acontece em praticamente todas as capitais europeias. “Se formos a Londres ou Paris temos áreas metropolitanas enormes. Lisboa tem um núcleo urbano bastante limitado. Temos de ter uma visão mais metropolitana, discutir a mobilidade intermunicipal, ter uma estratégia pensada a nível da área metropolitana, em ambas as margens, para dar condições de acesso a cidade.”

Os concelhos mais baratos
As zonas turísticas — Lisboa, Porto e Algarve — são aquelas onde a taxa de esforço para aquisição é mais elevada. Na AML, por exemplo, o valor está na casa dos 58%, seguido de Lagos (52%), Loulé (52%), Tavira (52%) e Albufeira (48%). “O evidente desequilíbrio entre a oferta e a procura de habitação na capital justifica esta tendência”, refere o estudo, que apresenta os cinco concelhos onde é mais acessível comprar casa: Portalegre (16%), Santarém (15%), Bragança (15%), Castelo Branco (14%) e Guarda (13%).

No que diz respeito ao arrendamento, a taxa de esforço é equivalente em termos geográficos, comparando com os valores para aquisição. Lisboa (68%), Albufeira (68%), Loulé (57%), Cascais (57%) e Amadora (57%) são os concelhos onde o desequilíbrio entre rendimentos e despesas é mais evidente. É por isso que o estudo conclui que mais vale comprar casa: “Em todos os concelhos do país, a aquisição de habitação implica sempre um menor esforço financeiro das famílias do que a opção de arrendamento. Adquirir uma casa de 90 m2 implica um encargo mensal entre 14% a 61% inferior ao valor mensal do arrendamento praticado na mesma zona, incluindo em mercados muito valorizados, como Lisboa e Porto.”

NÚMEROS
13%
é a taxa de esforço para comprar casa na cidade da Guarda, a mais baixa de todas as cidades analisadas em Portugal. Em Lisboa, a mais cara, a taxa de esforço ronda os 58%

13
das 18 capitais de distrito têm casas de 90 metros quadrados a menos de €90.000, variando entre os €53.855 da Guarda e os €86.485 de Setúbal