Denisa Sousa, in Jornal de Notícias
A ausência de números oficiais sobre o abandono escolar em Portugal foi, ontem, fortemente criticada pela nova direcção da Confederação Nacional de Acção Sobre Trabalho Infantil (CNASTI) que interpreta a situação como um reflexo do desprezo estatal pela educação e pelas crianças. Os únicos números de 2006, disponíveis no Eurostat, evidenciam, no entanto, uma realidade algo peculiar e difícil de analisar, apontando para uma taxa de 40% de abandono escolar na faixa dos 18 e os 24 anos.
Mais grave, assinala a nova presidente, Ana Maria Mesquita, é o facto de a percentagem ter descido apenas 0,1% em dez anos, o que nos coloca a mais do dobro da média europeia. Em plena campanha global "Unidos pela Educação", a CNASTI faz um alerta ao Governo para que intervenha de uma vez por todas neste flagelo, sobre o qual não há sequer dados concretos.
"Sabemos que existem, que saem da escola, que são muitos. Pensamos que as escolas não sinalizam os casos, nem avisam as entidades ou então avisam, mas ninguém actua. Mas para onde vão estas crianças? Onde estão e o que estão a fazer", questiona a estrutura, sublinhando que o resultado do abandono escolar está, em muitos casos, a redundar na marginalidade, prostituição, pequeno crime ou tráfico de droga.
A situação global da educação no país revela ainda, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística, que no terceiro trimestre de 2006, 71,3% de toda a população empregada tinha "o Ensino Básico ou menos". "Julga-se que há muitos licenciados, o que nem é verdade", frisa a CNASTI. Na presente campanha pretende-se dar um novo impulso à discussão sobre a temática.
A presidente defende mesmo uma tomada de posição urgente que passa pela criação de equipas multidisciplinares, com psicólogos e assistentes sociais nas escolas para sinalizar e acompanhar os casos. "Não podemos ter uma escola como há 30 anos atrás, é preciso sobretudo incentivar as crianças a gostar das matérias, introduzindo currículos alternativos", frisou.