Jorge Heitor, in Jornal Público
Continuam a existir disparidades substanciais entre as diferentes regiões do mundo e entre os pobres e os ricos de cada país, reconhecem os indicadores mundiais de desenvolvimento agora publicados pelo Banco Mundial, como complemento ao seu relatório sobre desenvolvimento que apresentara em Setembro do ano passado, numa conferência em Singapura.
A pobreza extrema foi reduzida em 21 por cento a partir de 1990, mas isso não significa de modo algum que ainda não existam 985 milhões de pessoas (num total de 6500 milhões) a ter de procurar sobreviver com menos de um dólar diário (73 cêntimos). E não consegue esconder que, em 2004, ainda havia 2600 milhões de pessoas, quase metade da população dos países ditos em desenvolvimento, com um rendimento inferior a dois dólares diários (menos de um euro e meio).
O Banco Mundial declara existir um consenso sobre a necessidade de se reduzir a pobreza extrema, que é o maior risco para que as doenças se perpetuem e haja mortes prematuras.
Só que ainda ninguém conseguiu garantir de forma satisfatória melhor acesso de todos ao ensino, melhoria da condição das mulheres e de outros grupos marginalizados e um adequado desenvolvimento rural.
A mortalidade entre os menores de cinco anos diminuiu mais de 36 por cento nos países de mais elevado rendimento, de 1990 a 2005, mas apenas 20 por cento nos países em desenvolvimento. E não se pode, de forma alguma, esquecer que a mortalidade infantil devida ao paludismo duplicou no fim do século passado, principalmente na África subsariana.
Alguns países africanos, como o Lesoto, a Zâmbia e o Zimbabwe, com elevados índices de mortalidade por sida, têm hoje em dia uma esperança de vida inferior a 40 anos, enquanto no Canadá, na França ou no Japão já começa a ser normal esperar viver-se mais de 80 anos.
Vulnerabilidade à doença
A pobreza torna as pessoas dos países pobres mais vulneráveis à doença. Quase um terço das pessoas da Ásia Meridional e metade dos habitantes da África subsariana vivem com menos do equivalente a um dólar por dia, na sua maioria sem acesso a água potável ou a saneamento básico.
Quase metade da população a sul do Sara, em países como o Zimbabwe ou a República Centro-Africana, não tem os medicamentos essenciais; e até mesmo em países mais desenvolvidos da Europa se verifica que os pobres tendem a morrer cinco a 10 anos antes dos ricos.
Entre os países que, na última década, têm conseguido sair das listas do Banco Mundial referentes aos de rendimento baixo e médio, para passar à classe das economias mais desenvolvidas, contam-se a Grécia, Malta, Porto Rico, a Arábia Saudita e a Eslovénia, mas, no seu conjunto, constituem menos de dois por cento da população mundial.
E das 10 economias mundiais actualmente com uma maior quantidade de reservas nenhuma pertence ao continente africano, perpetuando-se assim a tendência para a África, na sua generalidade, ser quase como que um sinónimo de pobreza.
As grandes reservas, que tornam as economias menos vulneráveis e as libertam da dependência de instituições como o Banco Mundial (BM) ou do Fundo Monetário Internacional (FMI), são actualmente em primeiro lugar as do Japão, da China, de Taiwan e da Coreia do Sul, seguidas pelas dos Estados Unidos e da Federação Russa.
Deste índice de indicadores agora publicado pelo Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento, uma divisão do grupo do Banco Mundial, ressaltam a má gestão e a fragilidade das estruturas económico-financeiras de países como as Comores, a Costa do Marfim, o Togo, a Eritreia, Angola, o Sudão e a Guiné-Bissau. Todos eles com pior imagem do que Moçambique ou Cabo Verde.
Entretanto, o Banco Mundial anunciou que o tema do seu próximo Relatório Mundial do Desenvolvimento, a publicar no mês de Setembro, será a agricultura, enquandrando-o no contexto da globalização.